terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Exagero, ou Não?


O ser humano tem, invariavelmente, uma enorme tendência para o exagero. Falo, neste caso, da enorme propensão que temos para pintar a má sorte de uma cor mais negra daquela que, na realidade, ela é. É quase um vício, tornando-se para muito boa gente, um estilo de vida.
Pergunto-me: É porque gostam que sintam pena de vós? Será que necessitam mesmo que a demonstração de afecto de alguém vos seja dirigida através desse sentimento tão triste, tão desgostoso? Pena? Olhem…Façam-me um favor e, já agora, um também a “vocês” próprios: Acordem para a Vida e olhem á vossa volta! Olhem para o Mundo com olhos de sentir, e vejam a sorte a que muitos e muitos foram entregues! Sim, para milhares e milhares de seres humanos como vós, de carne e osso como vós, com sonhos como vós, com desejos como vós, que foram largados à má sorte, à desgraça, à tragédia. Isto sim é que é um exagero, "o exagero", e fundado em verdade, na triste e revoltante verdade. Isto, meus caros, é uma realidade, e para estes desafortunados, um estilo de vida diário e incessante, uma verdade que lhes rasga a pele e lhes colhe o sangue sem piedade, sem consciência, levando-os a lamentar todos os dias o dia em que vieram a este mundo!
Eu sei que cada um vive e sente á proporção daquilo que a vida lhe oferece, mas, caramba! Parem de se lamentar com o motor do vosso Mercedes que pifou, e com as férias no México que afinal não vão conseguir gozar por falta de dinheiro!

É altura de reavaliarmos a Vida, de reavaliarmos prioridades e Valores Humanos, de parar de olhar apenas para o nosso umbigo e para as quatro paredes do nosso pequeno mundo!
Todos temos problemas, é um facto. Todos temos o direito de reclamar deles, também é outro facto. Agora….quando reclamarem da vida, façam-no quando ela se comportar como uma madrasta de chicote na mão, e não quando ela vos roubar o rebuçado da boca.

Morrer na Praia


Se tivesse que apontar num sentido, sentido esse para onde eu penso que se encaminha a minha vida, e com ela os meus planos em conjunto, os meus projectos pessoais e profissionais, eu diria: “Pá frente”. Eu sei, é uma resposta assim para o vaga, para o inconclusiva, assim para o “ficamos a saber o mesmo”, mas é o que é, e não há volta a dar. O erro, quanto a mim, é a confusão que se cria entre o “projectar” e o “adivinhar”, entre o “ser” e o “querer ser”.

Quantos de nós já não atravessou oceanos inteiros a nado, não desbravou com coragem uma montanha de gelo, esfolando os pés e as mãos e até perdeu as unhas para tentar chegar “ali”, àquele tão desejado “concretizar de um sonho”, mas, e por qualquer motivo, não conseguiu? Quantos? Sim, eu sei… apesar dos nossos sacrifícios, a vida nem sempre nos presenteia com aquilo que imaginamos como sendo justo como recompensa pela determinação, pela luta e pela perseverança…
Sim, também eu luto, também eu sonho, também eu já “morri na praia” tantas, mas tantas vezes…e elas, essa praias, quer queiramos quer não, estarão sempre “ali”, ocupando o lugar de muitas das nossas metas “imaginárias”…

Sabem o que eu costumo fazer nessas “praias”?


― Dou sempre um mergulho…. E sabe tão bem….

sábado, 26 de dezembro de 2009

Fim dos Tempos


Como sabem, a Profecia Maia prevê que, a 21 de Dezembro de 2012 o nosso planeta sofrerá uma alteração a nível global. Essa alteração, dizem, irá acabar com grande parte da vida terrestre, levando o planeta a mais uma extinção em massa das principais formas de vida, daí esta “ideia”, esta previsão, ser encarada por muitos como “O Fim dos Tempos” ou “O Fim do Mundo”.


Se por um segundo, por um segundo apenas admitíssemos que tudo isto é verdade, que realmente o fim do mundo está aí á porta, pergunto-me: O que é que ”nós” faríamos hoje? Que providências tomaríamos hoje? E amanhã? Como seria encarado o dia de amanhã? Como iríamos viver estes restantes dois anos? Com medo? Á espera de braços cruzados, ou faríamos festas todos os dias? Passaríamos todo esse tempo a gozar ou a lamentar? O que é que tu farias? O que é que o Mundo faria?

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Bom Natal! OH OH OH!!!


Pois é...
Ele está aí, o Natal, e com ele a Alegria, a União, a Solidariedade. Faço votos que todos vós O Vivam intensamente, com muito Amor e Amizade.
Quanto a mim, vou tentar ser como sempre sou nesta Quadra...Uma criança alegre e aos "pinchos" pela casa toda!

Bom Natal, meus Amigos!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Dinheiro


Não vou mentir. Sim, eu gosto de dinheiro, e, já agora, quem é que não gosta? Se eu sou materialista? Sim, talvez um pouco, mas não exagerado. Bem, para falar a verdade, não é do dinheiro que eu realmente gosto; Em boa verdade, o que eu gosto mesmo é de ter coisas boas. Porquê, é pecado querer viver bem? Será condenável a ideia de querer proporcionar conforto às pessoas que amamos, e desfrutar com elas momentos em locais que só e apenas através de mais uns “trocos” os poderia vivenciar? Não sei. O que é que acham? Ok: “O dinheiro não traz felicidade”. Porque não? Será que quanto mais ele for na carteira, mais pequeno será o coração? Será que o dinheiro tem o poder de nos diminuir enquanto seres de emoções, e de matar os “reais e puros valores”? Não, não penso isso. Estou convicto que o excesso de dinheiro no bolso de alguém tem um efeito diferente. Acho que ele tem um efeito libertador, sim, Libertador. Na minha opinião, a riqueza não muda personalidades, apenas as liberta das amarras que as prendiam ás obrigações diárias, que as ajustava numa resignada forma de ser e de estar, de interagir. Com dinheiro, muito dinheiro, tudo muda, pois deixa de existir a necessidade de representar uma personagem que era moldada pelas regras e pelas vontades de outros “alguéns”. Sim, com dinheiro suficiente, com ele vem o poder de escrever novas regras para quase tudo na vida e, finalmente, a liberdade total, pois deixa-se de estar preso á necessidade de um dia vir a precisar “daquela mão”. O dinheiro tudo compra, até o amor incondicional. Com ele na carteira, é o fim da representação para quase tudo, para quase todos. Podemos dar lugar ao nosso “eu quero, posso e mando”, á nossa arrogância escondida e esquecida durante tanto tempo, ao nosso egocentrismo, á nossa excentricidade desmedida e irracional, á nossa crueldade para quem está no “fundo da pirâmide”, ao nosso enclausuramento por muralhas de ouro, sem ninguém a ter que dar desculpas e justificações…
Infelizmente, o dinheiro não muda as pessoas, ele apenas revela o ser desejoso e sedento de poder que muitos de nós, sem sequer o sabermos, somos.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Terapia


Sou um fã de Psicologia. O comportamento humano intriga-me. O saber interpretar emoções e comportamentos com base em informações, muitas delas aparentemente irrelevantes é, quanto a mim, um Dom, uma capacidade inata do ser humano que a pratica. Claro que, a base científica tem que existir, mas, na minha opinião que não é expert no assunto, a capacidade de “leitura” de uma pessoa, a capacidade de “cruzamento de dados”, “dados” esses muitas vezes desenterrados de um passado distante, mas que vêm “justificar” causas presentes, é uma competência de alguém com uma visão mais ampla, de alguém que sente o mundo com uma sensibilidade mais apurada, de alguém cuja emoção é “utilizada” para um melhor entendimento dos “cenários envolventes”.
Enquanto viajo pelos mais diversos blogues, é impressionante, ou melhor, é fascinante o número de pessoas que vou lendo que têm “uma visão”, uma “análise pormenorizada” do comportamento humano. De alguma forma esta constatação cria em mim um sentimento bilateral, porque deixa-me contente e triste de igual modo. É realmente bom saber que tanta, mas tanta gente tem essa “visão ampla” que atribuo aos psicólogos e aos sociólogos, e que por aqui, nesta imensa blogosfera, vão expondo as suas “teses”, as suas “respostas equilibradas” ao nosso “desequilibrado mundo”. Mas, ao mesmo tempo, não posso deixar de pensar que a grande maioria neste universo de “bloguistas” não falam muito dos seus próprios assuntos que por aqui vão sendo publicados, nas animadas ou "problemáticas" conversas de amigos. Sim... não, não exploram as possibilidades das suas próprias ideias, e não põe em prática muitas das suas próprias teorias e “soluções”. Infelizmente não são honestos para com as suas próprias palavras, com as suas “saídas”. E porquê? Não sei. A sério que não sei… O que sei é que ninguém, ou quase ninguém expõe uma ideia por palavras escritas se, na realidade, não sabe como “a” pensar, não sabe como “a” sentir. Por isso, e assim em jeito de terapia, proponho o seguinte: Releiam os vossos textos as vezes que acharem necessárias, porque é nas vossas palavras, nas vossas reflexões, nas vossas “parvoíces” que encontram muitas das respostas às vossas próprias perguntas, muitas teorias para as vossas próprias emoções “descontroladas”, muitos devaneios que justificam os “nossos” comportamentos desalinhados…

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Livros


Às vezes esquecemos de lembrar que, antes do aparecimento do Homem á face da Terra, a vida já existia há milhões de anos. Este planeta nem sempre foi nosso, como gostamos de imaginar que sempre o foi. Para que pudéssemos “nascer”, o Mundo teve que tomar uma série de providências, sendo uma delas muito importante. Falo, neste caso, da exterminação em massa a que foram sujeitos os nossos antigos habitantes. Sim, refiro-me aos dinossauros. Durante a sua longa permanência no planeta, estes animais eram regidos por uma lei, e uma lei apenas. A da Sobrevivência. Tudo o resto "auto-equilibrava-se" e "auto-recalibrava-se" e, mesmo no caos da "luta", a harmonia era uma constante, porque as "regras do jogo" não eram questionadas, não eram racionalizadas, apenas sentidas nos instintos que os moviam. Ao fim de milhares de anos, esses "irracionais" tiveram que desaparecer da face do globo, para que, também nós, tivéssemos a oportunidade da existência. Com o aparecimento do Homem, a seu tempo, novas e diferentes regras foram criadas para que todos pudessem viver em sociedade, ou melhor, para que todos pudessem viver segundo as bases e os princípios da “sua” comunidade. Surgiu então a divisão do mundo e das pessoas por línguas, por países, por cidades, por sociedades, por clãs, por tribos, e, talvez uma das principais, por religiões. O "Deus" passou também Ele a ser dividido por nomes, por formas, por princípios, por doutrinas. Livros foram criados pela mão do Homem, todos eles contendo a Sua Palavra como sendo “a verdadeira”, como se, de alguma forma, todas as suas folhas tivessem sido colhidas miraculosamente de uma árvore com todos os seus caracteres impressos a tinta. Sim, todos eles falam da “Sua” Vontade, todos eles se referem á Bondade e á Maldade, ao Paraíso e ao Inferno. Regras nas suas linhas foram estampadas para que pudéssemos segui-las, obedecê-las, temê-las, respeitá-las mesmo sem as entender de facto. Ao longo do tempo, muito foi alterado nessas folhas que nos guiam e, mais uma vez, a “Sua Mão” de “diferentes dedos” desceu dos céus, para escrever a "Nova Vontade" em diferentes folhas de diferentes livros, proclamando novas verdades, novos castigos, recompensas…
Quanto a mim, dispenso todos eles. Respeito-os sim, e reconheço até que algumas dessas “lições” desses muitos livros possam ter o seu valor, a sua importância enquanto “ilustração” de valores morais. Aquilo que eu penso, aquilo que eu sinto, se querem mesmo que vos diga, é que, em todas as situações da Vida (e reparem que me refiro a todas), apenas um valor deve ser levado para “todo o lado”.
Falo de Amor. O Amor a nós próprios, e o Amor ao próximo. Acredito que nada mais faz falta, porque este sentimento tem várias “faces”, diferentes “ramificações”, e é demonstrado sobre várias formas…
Se todos nós seguíssemos este “simples principio”, o Mundo certamente seria mais unido, indivisível mesmo nas suas diferenças…

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sinais


Estou convicto que todos o sentem, mas nem todos o sabem. E é claro que muitos de nós o negam mesmo quando são confrontados com evidências, mesmo quando elas nos são reveladas através de uma imagem difusa. Quando os olhos não vêm, “elas” são camufladas pela ideia da sorte, e depois descartadas pelo cepticismo, pela descrença.
Todos nós, quer queiramos ou não, estamos constantemente a ser bombardeados por energias. Muitas dessas energias são positivas, energias essas que nos transmitem sensações de bem-estar, de positividade naquilo que se investe, seja a nível profissional ou pessoal. Essas energias funcionam como correntes, as tais “correntes positivas”, as tais “boas ondas”. Estas “ondas positivas” são facilmente transmitidas de pessoa para pessoa, bastando para isso, haver um simples e “inofensivo” contacto entre elas. Essa transmissão poderá ocorrer num simples aperto de mão, através de um simples contacto visual, ou pelo simples facto de os “intervenientes se encontrarem no mesmo local. Estas energias normalmente “passam” de uma forma natural, inconsciente, não propositada, porque são inocentes e puras na sua essência.
Claro que, assim como tudo que existe no mundo, o oposto desta energia também existe, também ela é transmissível, também ela tem a sua intenção. Estas forças negativas têm muita força, na sua maioria até mais do que as suas opostas porque, muitas vezes, elas são intencionais, são “dirigidas” com o intuito de provocar um efeito, uma consequência, negativa claro.
Infelizmente, os nossos inocentes e “cegos” olhos não estão preparados para “ver” estas “correntes”, estas “forças”. Mas se parar-mos para sentir, sim, para “olhar com a alma”, muito nos será revelado através das vozes que nos acompanham sempre, sim falo das vozes dos nossos protectores, dos nossos guias, dos nossos mestres. Eles vivem no nosso mundo, sim claro que invisíveis, mas sempre presentes, sempre constantes, existindo apenas com a missão de nos ajudar a caminhar, a alcançar as nossas metas.
Eles, através de muito esforço, recorrem a sinais, sim a sinais perceptíveis pelo nosso corpo, visíveis pelos nossos “débeis” olhos, para nos desviarmos “dali” e para seguir antes por “aqui”, para “fugir” daquele “contacto” porque ele não nos “traz” nada de bom. Eles sabem de onde vem o perigo, e lutam com ele, mas nem sempre ganham…

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Enfim...Mulheres!


Os homens, na sua infinita inteligência, são capazes de fazer tudo, de entender tudo, ou melhor, quase tudo. E quando digo “homens”, sim, estou a falar daquela espécie humanóide em que lhe nasce pêlo na cara e no peito, (só para não haver confusões). Cada vez mais, me convenço que, dentro de cada um de nós, existe um pequeno Mackyver, sim, um pequeno inventor sempre pronto para criar qualquer coisa, sempre pronto a dar resposta a qualquer problema, a qualquer desafio. Tenho a certeza que, se na altura da maternidade o médico responsável pelo nosso nascimento nos perguntasse o que queríamos como prenda de “chegada”, certamente que, muito de nós, se pudéssemos falar (claro), lhe pediria um canivete e algumas tábuas para construir o nosso próprio berço. É! Somos assim! Durante a História da Humanidade, os homens destacaram-se em áreas muito distintas, tais como a engenharia mecânica, a engenharia espacial, a arquitectura, as comunicações, as áreas energéticas, e por aí fora. Sim, é indiscutível o facto de que, realmente temos uma capacidade inata de compreensão, de interpretação dos elementos e o que fazer com eles. A nossa capacidade de observação é muitíssimo astuta, e a facilidade com que damos respostas, tem como base essa excelente capacidade de entendimento dos factores envolvidos. Posto isto, e para não dar a entender que sou um defensor da minha espécie, como sendo ela a mais inteligente, e como consequência, a principal responsável pelo desenvolvimento global, deixem-me fazer a seguinte observação: Porque será que os homens, na sua infinita habilidade, na sua ampla visão na compreensão do mundo, na sua extrema competência em resolução de problemas, não consegue, ou melhor, não tem a capacidade de entender o maior mistério de todos os tempos? Sim, os homens sabem do que estou a falar! Sim, claro que falo das Mulheres! Acredito que não exista um único homem á face da Terra que consiga desvendar os seus mistérios, e isso deve-se ao facto de, quanto a mim, Elas nos “confundirem” por duas frentes, impossibilitando-nos, dessa forma, de as observar com clareza, com objectividade: É que além de elas serem muitíssimo complicadas, são também de uma complexidade extremamente complexa, e quando "nós" pensamos que "descomplicamos" a "tal situação", a complexidade complexa delas entra em acção....Ok...perdi-me agora... E, já agora, porque será que todas elas, com uma facilidade tremenda, há que dizê-lo, conseguem sempre nos tirar a “pinta” toda?
Enfim…Mulheres!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Hoje Afinal...é Natal


Sim, chegou o Natal. Chegaram as luzes a piscar e as músicas que todos adoramos ouvir, mas que, ao fim de algum tempo, chateia. Chegou também a altura de dar presentes, e de sermos melhores pessoas pelo facto de o fazermos. Para mais do que muitos, o tal acto de “dar de boa vontade”, de ajudar o próximo numa rua, de melhorar, nem que seja com um pequeno gesto, o dia triste e miserável de alguém, sim porque “hoje” é “esse dia” em que somos “obrigados” a dar de coração sem esperar nada em troca, é, quanto a mim, para essa grande maioria de muitos, nada mais que um acto egoísta, um acto de vaidade, um acto de redenção. Fazem-no apenas para serem vistos a fazê-lo, para, pelo menos “hoje”, serem motivo de orgulho, para se olharem ao espelho e sorrirem de auto-reconhecimento, para se perdoarem a eles próprios, para sentirem que “eu fui dos que deu…dos que ajudou. Sou boa pessoa, ou não?”. É…sentem que juntaram mais pontos á caderneta, e agora sim, estão mais próximos de Deus e da sua infinita bondade. Dezembro é aquele mês em que somos todos obrigados pelo (X) do calendário a compreender que, afinal, somos todos humanos em todas as nossas diferenças, e que, o acto de “dar” deve ser feito para diminuir essas distâncias, esses abismos que nos separam. Aí, é ver-nos nas ruas a oferecer o troco do café ao ceguinho, e a desejar-lhe um feliz Natal; No hiper-mercado, a comprar um saco de arroz para o banco alimentar, e imaginar que pelo menos cinco crianças não irão morrer á fome porque “eu fiz um gesto nobre”; A doar a roupa velha que passou de moda, em comparação á última colecção de Primavera/Verão, mas que agora é perfeita para aquecer alguém numa noite de frio; E, claro, retirar da montanha de brinquedos do puto aquele peluche que ele já não liga nenhum, para fazer uma outra criança do outro lado do mundo feliz. Sim…somos todos uns bondosos, uns “mãos largas”. Neste mês, a bondade é contagiante, chegando até aos órgãos de comunicação social. Fico mesmo contente por alguns programas de entretenimento televisivo, se transformarem, assim do pé pá mão, em verdadeiras instituições de ajuda social, dando a oportunidade às pessoas e ás empresas, de serem uns verdadeiros heróis, sim…de serem de facto uns verdadeiros seres humanos, ao doarem o dinheiro necessário para ajudar a Sra. Maria a comprar a tal cadeira de rodas para o seu filho que ficou paraplégico no mês de Fevereiro passado. Sim, chegou a hora de dar, de ajudar, de sermos bons, de sermos compreensivos, sim, porque no (X) do calendário, “hoje” afinal é Natal…

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Sonho de Criança...


Quando tinha cerca de dezasseis anos, fui viver com o meu avô para, pouco tempo depois, passar a viver sozinho. Mesmo afastado de casa, tinha algum contacto com os meus pais e, embora eles estivessem divorciados, sabia o que continuava a acontecer nas suas vidas. Habituei-me desde cedo a viver só, á minha independência, ao meu sofrer sozinho, ao meu rir sozinho, á minha luta pelas minhas coisas. Consegui muita coisa, inclusive crescer enquanto homem… mas, aquela criança que não viveu o suficiente dentro de mim, continuava a reclamar… (continua a reclamar), a viver sonhos e desejos que não podem e nem devem ser concretizados. Mas, mesmo assim, e porque é Natal, este é um deles.
Contrariamente aos anos anteriores, este ano tenho apenas um desejo. Gostaria de ver a minha família junta, unida na mesa de Natal. Por apenas um dia, desejava ver os meus pais juntos á cabeceira da mesa, a falar, a rir um com o outro, como o faziam quando eu era pequeno. Sim, é esse o meu desejo… vê-los ali, lado a lado, companheiros, como os “meus pais” de quando eu era criança. Era muito feliz nessa altura em que eles se amavam, em que éramos uma família humilde sem grandes prendas para trocar…Sim, é esse o meu desejo…ter a minha família de volta apenas por um dia. Sim…um sonho de criança.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Tudo Por Uma SMS...

Para ver e reflectir...

Há mensagens que necessitam mesmo de serem entendidas, nem que para isso as precisemos de "viver" no pequeno ecrã...

Percam 4 minutos, e tirem as vossas conclusões

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Deserto Que Nunca Vi


Será que é possível sentir saudades de algo que nunca se viu com os próprios olhos? De um lugar que nunca se tocou com as próprias pontas dos dedos? Pois é…eu sinto. Sinto saudades do deserto. Sinto saudades da paz do “só”, do caminhar sem aquele destino previsto, porque no deserto todos os caminhos nos levam ao mesmo de sempre, ao mesmo “nada”, ao confortável sossego da solidão. Sinto falta de lá estar sozinho a olhar o seu imenso horizonte, de me sentir como apenas uma das suas milhentas areias por ali espalhadas sem intenção, insignificante para o resto do mundo. Ah, que saudades eu sinto de correr e de me perder pelas dunas, sem me dar conta da minha própria presença, sem precisar de sentir a minha falta na minha própria vida. Recordo-me com saudade do seu interminável silêncio de vozes, do seu chão igual em todos os seus lugares, sem estradas e caminhos certos a apontar direcções, sem obrigações de paragens e arranques, sem regras ditadas pelas bocas, sem ambições além da sobrevivência...
Preciso de me encontrar, e para isso necessito de me perder.
Quero lá voltar, por uma horas, por uns dias, não sei.........

Apenas sei que tenho saudades do Deserto que nunca vi…

What Dreams May Come

Aconselho-vos vivamente a ver este filme. Ele dá-nos uma perspectiva da vida que, muitas vezes, nos esquecemos de ter. Numa opinião pessoal, todos nós deveriamos ter uma consciência "consciente" da existência da morte, pois assim, a vida seria muito mais valorizada, muito mais vivida. Este filme, protagonizado por Robin Williams, fala-nos da vida e da morte, de esperança, de luta pelos sonhos, mesmo depois do Fim...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Morena ó Morenita!


Nunca deixo de me sentir emocionado com aqueles que se entregam totalmente a alguma coisa. Não me refiro apenas “àquela” entrega em que nos atiramos aos grandes sonhos, aos grandes projectos, às ambições e conquistas de estilos de vida. Não. Falo, neste caso, de momentos; de apenas alguns minutos de puro amor, de pura libertação, daqueles pequenos instantes em que deixamos cair a máscara e nos revelamos, sem medo, sem preconceitos, mesmo correndo o risco de falhar.
Com isto, quero-vos contar uma pequena história.
Algures entre os meus catorze/quinze anos de idade, iniciei a minha vida “profissional” como músico. Na altura, juntamente com o meu melhor amigo, formámos o “Duo”. Os pais lá entraram com a “logística”, e nós lá nos pusemos a ensaiar. Começamos por ser aquele estilo de músicos virados, apenas e só, para o instrumental. Querendo com isto dizer que, só tocávamos e não cantávamos. Éramos muito bons nisso, e adoptamos esse estilo durante muito tempo. Aquando da primeira solicitação feita por uma colectividade para lá actuar, surgiu a ideia de «Porque não cantar?» e após uma profunda e inconsciente reflexão, decidimos «Vamos a isto!» Então, lá começamos a abrir as goelas para tentar fazer música com os estranhos sons que de lá advinham. Esta tarefa tornava-se muito difícil, porque era quase insuportável conter a vergonha que tínhamos um do outro, ao ver e ouvir aquelas duas tristes figuras aos “guinchos”. Eu desisti logo. Era muita a pressão. Mas ele, o meu amigo e sócio, persistiu, e atirou-se á fera com determinação, com amor. Era vê-lo aos berros, a desafinar, a “descarrilar”, e eu rindo, mas no fundo roído de inveja por não ter coragem para aquilo que estava mortinho para fazer, por conquistar. Confesso que, mesmo hoje, passados quinze anos, sinto um profundo orgulho, uma enorme admiração por aquele acto… (cerca de 100 pessoas á espera da 1ª musica do “Duo Musical Hélder e Ricardo”. Ele nervoso, até tremia. Antes de começar, ouço-o dizer «Olha…que se lixe, e seja o que Deus quiser!» Entra o solo em piano, logo seguido por… «Morena, ó morenita, cada dia tu estas sempre mais bonita…»

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Á Caça de Gambozinos


Outro dia dei por mim á caça de gambozinos. Sim! Nunca ouviram falar de Gambozinos? Continuando....bem.....muni-me de botas especiais, um camuflado á maneira, e, como não podia deixar de ser, uma rede toda xpto, que, com jeitinho, até apanhava aviões a jacto. Fui á noite, pela fresca. Estava completamente embrenhado nessa difícil tarefa de apanhar tal improvável animal. Com lama até aos cotovelos, e os espinhos da mata a rasgarem-me a pele, lá ia eu sorrateiro, á escuta, completamente alerta e desperto. Andei durante horas, dias, semanas, e depois disso, andei mais algumas horas, mais alguns dias, e mais umas tantas semanas, sem pôr os olhos no bicho, até que, cheguei ás seguintes conclusões: Ou o animal entrou em extinção, ou hibernou para o outro lado do planeta! Não, Não podia ser. Ele tinha que estar ali, escondido decerto, mas definitivamente ali. Bastava um pouquinho mais de esforço, um pouquinho mais de insistência e determinação…
Enquanto perscrutava a imensa floresta em busca do “desaparecido”, dei por mim a olhar, a ver algo que ainda não tinha reparado antes. Aquele lugar era realmente belo. As árvores, o verde das folhas, o eterno silêncio, interrompido apenas pelo sussurrar dos bichos, faziam daquele lugar um pequeno paraíso. E ali estava eu, sozinho na caça, á procura de algo que nem sequer tinha a certeza que existia, apenas de ouvir falar…
No caminho de volta para casa, escusado será dizer que a minha fantástica rede apenas apanhou algumas desprevenidas lufadas de ar, e uma ou outra desfalecida folha de árvore…Mas, se querem mesmo que vos diga…caramba! O passeio soube-me mesmo bem!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Realidade


Aceitamos a realidade tal e qual como ela se apresenta. Sempre. Aquilo que vemos, aquilo que conseguimos tocar, ouvir, cheirar, é, sem margem para qualquer dúvida, tudo aquilo que compõe o Mundo, apenas e só. Muitas vezes dou comigo a pensar nestes termos, mas, existe sempre aquela dúvida, para alguns algo fantasiosa, mas que para mim, teima em marcar posição de uma quase certeza, uma lógica fundamentada com poucas lacunas a preencher.
Sim sou um crente. Não, não sou religioso, nem simpatizante de uma qualquer doutrina religiosa. Penso que é quase insensato admitir que o aparecimento do Universo, da Terra, da Humanidade, da Realidade, tenha sido fruto de uma colossal, de uma gigantesca coincidência. Não. Também não acredito em coincidências. Se pensarmos um pouco nisto, e se analisarmos todas as condições físicas, químicas, bioquímicas, relacionadas com temperaturas, composições do ar, da água, e de todos os outros elementos que “trabalham” em equilíbrio para a nossa sobrevivência, irão constatar algo de muito interessante. Todos eles obedecem a principios muitíssimo especificos, em que as substâncias interagem de uma forma “milimétrica”, com regras de equilíbrio entre si rigorosíssimas, e se, assim não fosse, não existiria vida na Terra. Bastava para isso, por exemplo, haver uma ínfima diferença de quantidade de dióxido de carbono no ar. O mesmo acontece com a temperatura e com os muitos outros elementos que, embora não os conheçamos, são essenciais para a existência de Vida no nosso planeta. Ínfimas diferenças...Curioso… Parece até que, no momento da Criação, uma mente inteligente esteve á cabeça do “projecto”.
Se este pensamento vos parece fazer algum sentido, porque não admitir que a Realidade também é composta por elementos invisíveis, inaudíveis, que não conseguimos cheirar e tocar?
Porque não admitir que, entre o “Céu e a Terra” existem elementos “escondidos” dos nossos apurados sentidos que contribuem, também eles, para o nosso equilíbrio, como os "velhinhos" quatro elementos?
Sim, para mim a Realidade tem muitas faces…

domingo, 22 de novembro de 2009

Lugares Elevados


Há-de sempre existir motivos que, em apenas uma ou em duas assentadas, nos deixará mais contentes, assim como elevados a quase um “expoente máximo de felicidade, ou, porventura, mais tristes, como quem se afunda do alto de um abismo, deixando-nos esmagados e espalmados no chão. Como uma espécie de balão a hélio, depressa ora somos projectados lá para cima, para junto das nuvens, onde somos embalados pela doce brisa do vento, aquecidos e protegidos pela ternura do Sol, assim…felizes da vida e coisa e tal, e, num outro momento, aquela fina agulha afiada, quase invisível e vinda do nada, nos “fura”, atirando por terra aquele momento que nos levou tanto tempo a levantar e a pôr no ar. Esta incessante batalha, este constante desafio que se chama Felicidade, leva-nos, cada vez mais, á procura de nova rampas de lançamento, daquelas que nos possam dar um maior impulso de voo, e atingir lugares mais “altos”. O problema, quanto a mim, é que, cada vez mais, esses “lugares elevados” que outrora nos faziam vertigens, nos parecem agora flutuar a apenas um metro do chão. Existem mesmo alguns que de tanto subirem, já se encontrem quase fora da orbita terrestre, pensando que ainda estão quase em contacto com a superficie plana da terra, sem se darem conta que o ar que respiram é cada vez mais rarefeito, escasseando a cada segundo de distância da superfície do solo, e que aí, se encontram muito poucos, que tal como eles, vivem longe e isolados do mundo, das pessoas, fechados, aprisionados naquele enorme espaço vazio que é o “alto patamar”, o “alto” da Felicidade.
Quanto a mim, prefiro aquele patamar mais baixo, construído apenas por frágeis tábuas de madeira, de cobertura de palha, aquecido apenas pelo calor das pessoas, com recursos limitados para o conforto, pois dá-me a ideia de estar no lugar mais alto do mundo, mas, na realidade, muito perto do chão, onde a realidade é dura, mas onde o ar flui mais fresco e em abundância…

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Cara a Cara


Esta tendência que temos para a ironia, para a hipocrisia, é, muitas vezes, mais forte do que nós, do que a nossa vontade. É quase uma força irresistível essa que nos empurra na direcção dessas palavras, desses comportamentos que, muitos defendem, só nos ficam mal, e nos destroem por dentro. Convenhamos que, nem sempre pomos em pratica essa nossa habilidade. Penso que, na maioria dos casos, esse nosso “ataque”, ou essa nossa “defesa”, é dirigida a alguém que, apesar de não nos ter feito mal algum, nos inflige um “problema” que, por qualquer razão, não sabemos explicar exactamente qual é.
Nesses casos em particular, e de forma a não transparecer o nosso desagrado, a nossa falta de vontade de ali estar com “essa” pessoa, a ironia e a hipocrisia funcionam quase como um escape, um desafio á nossa inteligência, que nos ajuda a manter ocupados num jogo de palavras “contrárias” daquelas que, na realidade, gostaríamos de dizer.
Embora essas atitudes irónicas e hipócritas sejam um defeito, não posso deixar de as admirar em alguns pontos, de as considerar como uma espécie de arte; arte essa a que apenas alguns aspiram a representar com direito a Óscar e tudo…
Estas duas formas de ser e de estar, têm que ter o seu “que” de subtileza, têm que ter o seu “que” de naturalidade, terão que fluir dos lábios com a doçura e a inocência de uma criança, para que as suas mensagens indirectas e subliminares não sejam detectadas aquando do “impacto”, mas subentendidas após cuidadosa reflexão por quem as recebeu.
Não sendo eu perfeito, confesso que tenho bastante jeito para a “coisa”, mas dificilmente jogo este “jogo”, isso porque não existe nada de mais libertador e divertido do que a verdade…cara a cara.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Verdade Verdadinha


Claro que se toda a gente o diz, é porque só pode ser verdade. A partir do momento em que um determinado número de pessoas, número esse que eu não sei precisar qual, aceitam o “tal” facto, a “tal” história, mesmo sem provas que a sustente como sendo verdadeira, ela passa a ser automaticamente verdade. Somos assim. Fáceis de levar, fáceis de influenciar. Não questionamos muito, não nos chateamos muito, preferimos o prato já cozinhado e pronto a servir. É incrível como as quantidades deturpam os factos, influenciam as massas. Quantos de nós é que já não assistimos ao recrutamento de adeptos, de crentes, de testemunhas de uma determinada “verdade”? Sim…basta ver televisão, e assistir aos telejornais. Mas, este interessante fenómeno não acontece apenas nos cenários políticos, desportivos, religiosos, distantes de nós. Acontecem á nossa porta, na nossa vida diária, ali, ao virar da esquina. Os boatos, as crenças, as ditas verdades, são espalhadas de boca em boca, ganhando gradualmente esse estatuto de “verdade verdadinha”, mas, muitas vezes, camuflada como segredo absoluto em que apenas toda a gente sabe…

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Passe de Mágica


É. O Tempo não pára. Não pode, nem deve parar, mesmo se o conseguisse. Quantas vezes o desejamos, quantas vezes o exigimos, pela força daquela circunstância especial, em que nos vimos “ali” tão bem, tão amados por aquela companhia, ou naquela hora fatídica, sufocados pelos incessantes segundos que nos empurrava, levando-nos cruelmente ao abismo, ao limite da imposta “dead line. É curioso este Tempo. Tem os seus caprichos, os seus timings, não cedendo um segundo que seja de atenção a quem tanto encarecidamente lhe pede que abrande o seu frenético passo, ou então, que corra apenas mais um bocadinho. Existem pessoas que passam o dia a “pedir-lhe” que os levem rapidamente até o final do dia, assim, num fôlego, como um passe de mágica. Preferem a “anestesia” á tortura dos segundos, das horas, dos dias, da Vida… Preferem que tudo acabe depressa, para voltar ao mesmo dia, ao dia seguinte, para realizar esse desejo de novo, assim numa roda incessante, pois o Tempo não pára, mas, de quando em vez, o Tempo faz-lhes a vontade, e rouba-lhes um pouco mais de “existência”, mas com um preço…um preço alto e sem retorno... A velhice, e com ela o arrependimento, um novo desejo, o de estar acordado em todos os segundos de todas as horas, e que “ele” se esqueça, uma vez por outra, de passar nestas bandas…

domingo, 15 de novembro de 2009

Doentinho


Logo agora, nesta altura do campeonato, tinha que ficar assim. Doente. Finalmente, a gripe conseguiu apanhar-me e instalar-se no corpo. E não, respondendo á vossa pergunta, não é a gripe A. É uma sensação estranha esta de estar doente. O corpo não responde como o habitual, e a frustração de estar aprisionado, limitado, até nas coisas mais simples e normais, como o falar, como o respirar sem dificuldade, como o andar, sem parecer um velhote de 86 anos, como o abrir os olhos sem lacrimejar, tornam-se tarefas difíceis, desafios em todos os momentos. Para além do facto de estar “incapacitado” por todos estes factores, existe um lado positivo e agradável nisto tudo. É tão bom ser tratado pela mulher que se ama… não por sentir que ela está ali para ser a nossa criada/enfermeira particular, mas pelo facto de que, inadvertidamente, voltamos a ser crianças, com aqueles comportamentos e birras que fazem parte da inocência infantil. É bom ser mimado, ser aconchegado nos cobertores, estar dependente dela para quase tudo. Tirando o facto de estar praticamente sem voz, os olhos vidrados pelas lágrimas, já não sentir o nariz, e mais todos aqueles sintomas que vocês já experimentaram, confesso que, pelo menos nos próximos dias não me vou importar muito de ser uma criança birrenta, mimada, vulnerável.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Não Era Eu


Sete e meia. Levantar, o banho, a barba, o fato, o nó, o outro nó, mudar de gravata, os sapatos, os outros sapatos, as chaves, onde estão as chaves?, o carro, o portão da garagem, lento…lento…lento…, o prego quase no fundo, o stop. Parado. O rádio, aquela estação, essa não, a outra, o trânsito, a fila, a escapatória, a outra fila, o cigarro, o telemóvel, “mais dez minutos estou aí!”, vinte minutos, o trânsito, o stress, o rádio, a música, o cigarro. Parado.
No vermelho do semáforo, vejo um homem no espelho retrovisor. Era eu. Não, não era eu. Aquele homem tinha um olhar triste, apagado, cansado. Não, não era eu. Se fosse eu, estaria com um sorriso nos lábios, e o brilho dos meus olhos fazer-se-iam notar mesmo através das lentes escuras dos óculos de sol. Não, não era eu. Se fosse eu, deixaria com certeza aquele carro ali parado no meio do trânsito e sairia disparado a correr pelas próprias pernas. Não, não podia ser eu. Aquele era um estranho. Sim, um estranho, porque se fosse eu, não estaria naquele carro, a correr por algo que não quer, a vencer uma batalha que nunca quis travar. Não, não podia ser eu. Se aquele fosse realmente eu, deveria saber que, muitas vezes quando se ganha, perde-se.
Se fosse eu, dispensaria os troféus, os títulos, as honras…
Sim, se aquele fosse eu, era feliz sem nada para mostrar…
Não, ele não era eu…

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Arco da Ponte


Há dias, num desses domingos pachorrentos, fui dar um passeio ali para a zona da Ribeira do Porto. O dia estava esplendoroso. O sol brilhava nas águas do Douro, e as lojas abarrotavam de turistas, que admiravam postais, os barquinhos rabelos, e todos aqueles artefactos característicos da nossa cidade. Olhavam para a Ponte D. Luís, e disparavam fotos dos putos que saltavam dela para recuperar a tuta-e-meia atirada por alguém.
Enquanto tomava o meu café e fumava o meu cigarro, ali numa esplanada junto da Ponte, não pude deixar de reflectir no seguinte: De tanto estarmos habituados a ver determinada paisagem, seja ela uma cidade, seja ela um quadro, ou mesmo uma pessoa, muitas vezes deixamos de reparar na sua beleza, na sua grandiosidade, o quanto “ela” é importante na nossa vida. Os nossos olhos habituam-se de tal forma “àquela forma”, que ela, com o passar do tempo, perde relevância, importância, torna-se quase invisível, transparente, pelo menos enquanto “dali” não sair, enquanto “dali” não for roubada. Cheguei á conclusão que, muitas vezes andamos assim, como dizer…, habituados do mesmo, daquele cenário de sempre, daquela pessoa de todos os dias, daquela Ponte de sempre, com as conversas de sempre, com os putos de sempre. Depois, vem alguém de fora, de outro país, com aquele olhar de “algo de novo”, de cobiça, de alguém que enxerga pela primeira vez, e chama-nos á atenção daquilo que é nosso, daquilo que nos esquecemos de olhar, daquilo que amámos mas que nos esquecemos de cuidar, de admirar, de “tocar”, e aí, acordamos e lembramos o quanto “aquilo” é importante, o quanto descuramos e esquecemos aquela Ponte, o quanto retiramos e não oferecemos a esse rio, a essa pessoa…
O dia em que cegamos, é o dia em que perdemos a capacidade de olhar, de nos maravilhar, uma e outra vez com as dádivas que o Universo nos pôs no caminho… ali no desenho da tela, na pessoa do nosso lado, na imagem da cidade, no arco da Ponte…

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Hoje Vou Por Ali...


Todos os dias tomamos decisões. Umas mais importantes do que outras, como é óbvio. “Hoje" a Vida fez-me uma pergunta em jeito de desafio. Um desafio sério, empolgante, mas envolvido por riscos, por incertezas, por mais riscos, e por mais incertezas. Mas, em ultima estância, e se correr bem, o realizar de uma ambição antiga, um sonho.
Depois de reflectir bastante, de visualizar todos os cenários possíveis, de ouvir as sábias palavras, preenchidas de sinais de perigo e de alguns de “sentido obrigatório”, desenhados por ela, a minha linda mulher, decidi.
Sim. Se calhar, “Hoje”vou por ali. Sim, por ali. Vou mesmo por aquele caminho diferente, desconhecido. Não sei até onde ele vai, se é estreito, largo, escuro ou luminoso. Não tenho mapa nem indicações. Apenas esperança, apenas o sonho. É um caminho novo que surgiu ao lado daquele do “costume”. “Hoje” é o dia, é aquela altura em que tenho de me deixar “disso” do “cortar caminho”, do procurar estradas lisas de asfalto com barras de protecção. Tenho tempo para experimentar, para arriscar, para apostar de novo, ou talvez não, mas, partindo do princípio que sim, não quero saber quanto tempo vou demorar a “andá-lo” , ou mesmo quantos quilómetros terei que percorrer até encontrar a próxima área de descanso, para levar a boca á garrafa de oxigénio e respirar de alívio. Não vou sozinho, embora durante a caminhada vá só, com o medo no meu encalço e a excitação no peito… Vou tentar não seguir as pegadas de alguém, prefiro me perder, cair neste e naquele buraco e levantar-me de novo, sim, assustado e com dúvidas, com vontade de regressar, com vontade de desistir, com vontade de parar… Mas, mesmo assim, se calhar hoje vou por ali. Sim, por ali...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Vai um Copo?


Não existe nada melhor do que estar com a família. E por “família”, refiro-me também aos amigos. “Àqueles Amigos”. Aqueles chegados, aqueles irmãos em que a única coisa que não partilhamos é o sangue. Para mim, a amizade, a cumplicidade, o “dou a minha camisa”, é tudo. É um tipo de amor diferente aquele que nos liga, que nos diferencia nas nossas imensas diferenças e feitios, mas que, em última estância, nos une por aquele fortíssimo elo invisível, que não tem qualquer relevância legal, sujeito a divórcio. Houve alguém, um dia, que me transmitiu este pensamento, que eu, por qualquer motivo, reti na memória, e que é mais ao menos este: “Amigos não são apenas aqueles que conhecemos há vários anos. São aqueles que estão connosco, hoje, agora, e quando são precisos…”. Considero-me um Homem de sorte, porque faço-me acompanhar por excelentes pessoas, excelentes amigos, excelentes irmãos. Reconheço que, devido ao meu feitio, fechado, crítico, muitas vezes impositivo, não demonstro de forma clara, visível, pelo menos por palavras, o quanto lhes estou grato pela sua amizade, pelo seu amor, pela “sua camisa”. Aprecio todos aqueles momentos de “vai um copo?” naquela velha tasca a cheirar a mofo, ao fim do cansativo dia de trabalho, apenas para desfrutar daquele momento de silêncio “cómodo”, mais normal entre amigos homens, tudo com uma forte intensidade. Sou pela companhia, não pelos locais. Sou, muitas vezes, pelo forte abraço e não pelas palavras, sou pela acção e não pela intenção. Sou exigente na amizade, embora não seja pelas “cobranças”, pela obrigação do estatuto. Sinto, todos os dias que, essa relação, esse convívio, essa partilha de vida que temos, me ajuda a crescer, me ajuda, cada vez mais, a ser uma pessoa melhor, mesmo com todos aqueles defeitos que, de certeza, no “fim” me ficarão para durar…

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Lado Lunar


O Mundo, tal como o conhecemos, foi criado, sem excepções, por opostos. Assim como o reverso da moeda, esse “outro lado” revela-se em rigorosamente tudo o que existe, e, inclusive, em tudo aquilo que apenas acreditamos que exista, mesmo sem “o” conseguir-mos ver, sem o conseguir-mos provar. Dizem que Deus construiu o Mundo desta forma para que pudéssemos escolher. Escolher entre o dia e a noite, entre o quente e o frio, pelo bom e pelo mau… O ser humano, como tudo o resto, é composto por estas “duas metades” em oposição. Assim, como um espelho negro da alma, reflectimos muitas vezes uma imagem que desconhecemos, uma imagem distorcida de nós próprios. Desconhecemos os seus limites, o seu temperamento, a sua razoabilidade, as suas intenções. Esta nova imagem, é, toda ela, uma nova personalidade, com um pensar, com um sentir, com um “ser” próprio, cujos traços nos são estranhos. Ela é, quer queiramos, quer não, metade do “Todo” que somos, metade do “todo” que sentimos. Todos nós, temos “esse” nosso “Lado Lunar”, claro que, uns mais escuros, e outros, mais para o acinzentados… Durante o meu dia, dou muitas vezes comigo a discutir com esse meu “irmão gémeo”. Sim, digo irmão gémeo, porque “ele” faz parte de mim, ele, de facto, sou “eu”, e não um qualquer espírito que ocupou o meu corpo com desejos de vingança e acessos de fúria, (embora muita gente encontre “aqui” algumas explicações para esse seu “outro lado”). Temos batalhas quase diárias, ele é forte, persistente e valente. Gosto de combater com ele, e claro que não há “vencidos permanentes”, apenas entendimento mútuo, e, no campo de batalha, leva “a melhor”quase sempre aquele que conhece bem o seu inimigo. Aprendo, todos os dias, a conviver com este meu “irmão” (que agora está a dormir), e as batalhas, nem sempre são ganhas por mim…O facto da “Escuridão” viver dentro de nós, não significa que não tenhamos Luz nos nossos olhos, porque, tudo o que dizemos, fazemos, sentimos, é uma escolha, vinda de uma luta entre o "Bom e o Mau" que coabitam em conjunto…

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Vampiro Comum


De uma forma geral, o dia-a-dia do vampiro comum é vivido apenas com um objectivo: Sangue. Desde a altura que se levanta, até á altura que se recolhe de novo ao seu caixão, todos os seu sentidos vasculham o ar, sedentos, loucos, á procura daquele delicioso néctar. Todo ele é um exército de um homem só, disposto a passar por cima, a ferir, a matar se tiver que ser, todo aquele que se interpõem no seu caminho. Ele é impiedoso, frio, calculista, e um excelente observador. Escolhe a sua presa meticulosamente, estudando a sua vulnerabilidade, todos os seus pontos fracos e manipuláveis, prevendo, de antemão, onde irá cravar os seus dentes. Conhecem alguém assim? Sim, eles andam por aí, inclusive durante o dia, á procura desse alimento que faz deles, os seres mais demoníacos da rua. Estão disfarçados de pessoas gentis, amáveis, prestáveis, confiáveis, mas, tudo o que os move, é em função dessa necessidade primordial, dessa sede terrível. Normalmente, são muito difíceis de identificar, pois confundem-se por entre os comuns dos mortais. Movem-se, de uma maneira geral, muito lentamente, embora confiantes a cada passo, apresentam-se com trajes habituais, mas distintos, e, as palavras fluem seguras, ao mesmo tempo dóceis, não conseguindo, no entanto, disfarçar os trejeitos levemente cruéis nos lábios. Mas, se repararem bem nos seus olhos, irão notar que estão pousados no pescoço de alguém, quase compassados com o movimento do pulsar do sangue na jugular. Muitas vezes, sem os reconhecer-mos, eles vêm fotografados numa página de jornal, ou aparecem como protagonistas de uma qualquer reportagem. Aparecem-nos vestidos de bancários, políticos, investidores da bolsa, e até, homens do clero. Nem todos bebem o mesmo tipo de sangue, os seus gostos são requintados…, mas, mais tarde ou mais cedo, acabam por beber de uma taça envenenada, e aí, uma estaca de madeira perfura-lhes o peito…

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Vida Karaoke

Sou adepto daquelas pessoas que me contrariam, seja numa opinião, numa ideia, numa forma de ver este ou aquele pensamento, aquela visão do mundo. Sim, sou um admirador, um fervoroso adepto, apenas quando o fazem bem, quando o fazem com garra, com convicção, com alma, com conhecimento de causa. Sou um fã daqueles que defendem com unhas e dentes as suas ideias, sim, diferente das minhas, mas sim, as “suas ideias”. Sou um fã da “luta” com um amigo, dos altos e baixos dos tons acesos e espicaçados da “batalha”, dos sorrisos mal contidos á espera de atacar naquele “buraco” do seu argumento. Sou um fã do estado “abananado” depois de ter sofrido aquele “abano” no meu “mundo” de crenças e certezas irrefutáveis. Sou um fã do combate, do “KO” por “A+B”, do aprender a ver, também, “daquela maneira” que conhecia de uma forma incompleta. Sou um fã das palavras altas, dos “concordares baixos”, da discussão, do “quase chateado”, das gargalhadas do “picanço”, da amizade pura que nasce da discórdia, das mentes que pensam por si…
Hoje em dia, não encontro muitas pessoas assim. Com ideias, com a “sua” forma de ver, “a sua” forma de sentir, com algo de “seu” para atirar para a “fogueira”. Cada vez mais, recorre-se às “teses publicadas”, às visões deste ou daquele famoso, que só por fintar bem a bola ao adversário, ou por ter criado aquela música que toda a gente acorda a cantar, passamos a identificar-nos com “ele” em tudo. Desde a forma de vestir, a forma de falar, de pentear, e, mais grave ainda, pensar. Passamos a viver uma “Vida Karaoke”, onde “subimos ao palco” com a música de outra pessoa. Durante a actuação, imaginamos ser nós os donos daquela melodia, cantamo-la como nossa, até os gestos e “tiques” são roubados. Vivemos o “seu” sentimento, e, passamos a ser “ele” de facto, em tudo. Claro que, existem ideias no “mercado” com que nos identificamos e acreditamos, mas, na grande maioria das vezes, escolhemos “aquela” que vem acompanhada pela “imagem” do momento, pela moda do dia, pela mais “cobiçada”. Dessa forma, a nossa mente, a nossa personalidade, viverá sempre de “roupa nova”, hoje de verde, amanhã de vermelho, como o camaleão…

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Camarada de Armas

É nesta partilha, nesta troca de quase tudo que temos, de quase tudo o que somos, deste dar e receber de saberes, que vamos construindo sempre um pouco mais de nós. Hoje vejo que, infelizmente, tenho vindo a ser um fraco a “receber”. Sim. Receber. Eram poucas as vezes a que me dispunha a aceitar “aquela mãozinha” de ajuda, “aquela ajuda grátis”, “aquela palavra de conforto”. Nunca fui uma “daquelas” pessoas, dispostas a fazer profundas reflexões acerca de “como teria sido, pela maneira dela?”. Não, não era pelos “se ao menos a tivesse ouvido…”, pelos “podia ter feito diferente…”. Nunca fui adepto do arrependimento, mas sim, pelo reconhecimento da “falha”, do “ meu erro”. Fui sempre um defensor do “No meu erro, encontrarei a resposta certa”. Muitas vezes, é-nos muito difícil pensar “fora da caixa”, ver a “coisa” de outro ângulo, de outra prespectiva, como um espectador da nossa própria peça de teatro, assistindo ao “drama” do momento. Eu sei. Mas, desse lado, do lado de fora, está sempre alguém, com “aquele outro ângulo” perfeitamente nítido, que nós, apenas porque o queremos, não o queremos ver. Muitas vezes, carregamos o peso da decisão como a uma arma nos braços. Assumimos a frente de combate sozinhos, como se fosse uma vingança pessoal. Hoje, vejo a vida de forma diferente. Vejo-a com mais de um par de olhos. Juntos, não encontramos muitas vezes “aquela resposta ideal”, o tiro nem sempre é certeiro… Mas, nesta guerra, ninguém sai vencido pelas más decisões, pelos tiros no escuro, pelas quedas na procura do melhor abrigo…. Apenas chamuscados, pela euforia do combate.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Banda Sonora

Se tivesse que escolher uma banda sonora para o “filme da minha vida, seria, certamente, um tema dos U2. Quase qualquer um deles. Existem, claro, outras músicas, de outros músicos, de outras bandas que eu gosto e que, certamente, tiveram um papel importante, enquanto “ruído de fundo” desta ou daquela situação. Mas, isso acontece, porque sim, porque ela está lá, por acaso, porque tem que ser, por coincidência.
Não quero dizer com isto, que apenas os U2 são a única banda que oiço. Não, não sou um “super fã”, daqueles que têm os restos do frango assado que a banda comeu no último concerto de Alvalade, guardados no cofre. Sou sim, um fã. Pelo que dizem, pelo que cantam, pelo que tocam, por tudo aquilo que me fazem lembrar, por tudo aquilo que me fazem sonhar, pela paz que oferecem, pela sua companhia no amor… Sou um fã.
No dia dois de Outubro de dois mil e dez, lá estarei, a curtir, a cantar, a viver, mais uma vez, uma experiência, quanto a mim, quase religiosa…


terça-feira, 20 de outubro de 2009

Navegar...


É. O barco vai andando. Umas vezes depressa, outras devagar, enfrentando dias de tempestade, e, de quando em vez, radiosos dias de calmaria. Vai ao sabor da maré.
Isto de navegar, é para todos. Cada um de nós nasceu capitão. Cada um de nós é dono da sua própria embarcação. Navegamos todos os dias num mar caprichoso, temperamental, que constantemente nos põe á prova, roubando por vezes alguns pedaços de madeira ao nosso pequeno barco, num daqueles acessos de fúria combinados com a chuva e o vento. Remamos com vigor, com vontade, quando avistamos aquela "ilha do tesouro", mas, quando apenas as águas e o vazio do horizonte preenchem os nossos olhos, deixamo-nos levar apenas pela força das ondas. Assim, sem a bússola que não nos foi dada no principio da viajem, vamos andando, perdidos, sem rumo, á procura de novas ilhas, novos portos, novos tesouros. Pelo caminho, muitas outras embarcações se vão avistando, algumas pintadas de fresco, outras metendo água…
Na realidade, o importante é mantermo-nos á tona e desfrutarmos do "passeio", porque, para onde quer que naveguemos o nosso pequeno barco, o mar será sempre o mesmo…

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Regressei...a uma vida passada.

Hoje fiz aquilo que há muito tinha curiosidade para fazer. Regressão a vidas passadas através do Reiki. Dirigi-me a uma clínica chamada Portal da Luz, no Porto, e aí foi. “Regressei”



Começou por um exercício de relaxamento do corpo. A começar pelo braço direito, as mãos, os dedos, o cotovelo, e depois o mesmo no braço esquerdo, passando depois para a cabeça, tronco, costas, pernas e pés. A respiração era lenta, em profundas inspirações e lentas expirações. “Relaxe….inspire profundamente”, dizia a terapeuta numa voz calma e suave, quase um murmúrio.


Vejo uma escada. Ela desce em espiral no interior de uma câmara pouco iluminada. Os degraus são em cimento e não existe qualquer tipo de apoio para as mãos. O espaço é frio, feio e mal tratado. No fim da descida, estou numa sala de paredes vermelhas. Ao fundo, a luz entra forte e branca pelos pequenos vidros quadrados da janela. Á esquerda da sala, está um móvel, perece-me uma cómoda, preta, com desenho clássico, antigo, com largas gavetas. Ao meu lado direito está uma porta, alta, castanho clara. Não tem puxador. Empurro-a. Ela não abre. Sinto medo, agora está tudo escuro, sinto arrepios e, subitamente, abro os olhos.



“Hélder, você bloqueou” disse-me a Dra. Depois de algumas perguntas e considerações relativas a "esse" medo, disse-me que devido a "ele", bloqueei a minha entrada pela porta que tinha visualizado.


Segunda tentativa: Estou novamente na mesma sala. Vejo agora que ao lado da cómoda escura, se encontra uma outra porta. Alta, estreita, branca. Encontra-se fechada, mas tem um puxador. Abro. Entro. Uma lareira ao fundo queima alguns toros de madeira. Uma grande secretária vazia de papéis faz companhia a uma confortável cadeira. “Vê alguém nessa sala?”, pergunta a voz suave - Vejo. Ele está de pé com uma mão atrás das costas e a outra no queixo, pensativo, junto de uma janela. Olha as árvores e o rio mais lá á frente. É alto, veste todo de preto a condizer com o preto do cabelo e bigode “Vê algum nome?”. Sim. (***nome***). Sou eu.
“O que é que ele está a sentir?”
Ele está preocupado, apreensivo com a decisão que tomou. Matar os seus empregados, seus companheiros de mar… "Você é pescador?"- Não. Eu roubo no mar. Quero ficar com tudo para mim...
“Avance até á altura em que põe em prática esse seu plano” - Estou numa praia, sozinho. Fui abandonado pelos meus companheiros. Não os matei. Eu é que quero morrer, aqui, sozinho nesta praia.



“Avance 2 anos…onde está agora?” – Estou numa feira, novamente vestido de preto, com um lenço preto na cabeça. Estou furioso, enquanto passo olhares rápidos pelo espaço de pedra que compõe a feira. “Porquê está zangado?” – Não sei….
“Avance, agora dez anos” – Estou no campo. O campo da minha casa. Vivo da terra, das uvas. Estou sozinho, e sinto-me só, deprimido.



“Avance até á altura da sua morte”- Estou deitado numa cama muito larga, coberto por lençóis brancos. O quarto é cinzento, e do lado direito da parede está um quadro oval com um desenho de uma senhora. Estou sozinho, mas ouço o barulho das minhas duas filhas a brincar lá fora. A minha mulher não está preocupada. Eu distanciei-a durante toda a minha vida. Ela não me ama…
Estou agora no meu funeral. Ela, a minha mulher, veste de preto com uma renda preta na cara. Segura as nossas filhas, uma por cada braço, junto de si.
O caixão tem muitas flores em cima, mas muito pouca gente está lá a assistir.



“Avance até o seu plano espiritual…vê alguém consigo?” – Não, ainda estou na minha casa. Não quero partir. “Avance até o momento em que partiu” – Estou sentado na relva. Estou vestido de branco, assim como toda a gente que cá está. Estou a ler um livro de capas vermelhas. É o livro da minha vida. Leio-o sem qualquer emoção, sem qualquer arrependimento. Aqui sinto que o que fiz na Terra não tem qualquer importância. Estou a aprender, a ver aonde é que errei. “Avance até o momento em que está prestes a regressar a este mundo novamente” – Vejo um homem velho, alto, de bigode branco. “Quem é ele?”- É meu professor parece-me um pouco zangado, ou impaciente. “Quais são as palavras que o ouve dizer?” – Bondade, determinação, fugir da solidão…. são as minhas missões….


Nota: Muitas outras coisas foram ditas, assim como muitas emoções foram vividas, mas, prefiro conservar essas experiências apenas para mim. No entanto, partilho esta “viajem” convosco, porque penso que todos nós a devíamos fazer, porque muito pode ser aprendido e corrigido nesta vida…

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Efeito Borboleta

Todos nós o fazemos todos os dias. Antecipar. Fazemos o “filme” na nossa cabeça, e aí, ou choramos de sofrimento, ou pulamos de alegria, mesmo estando a horas, dias, anos, do “tal” momento. Antecipar um acontecimento, é nada mais, nada menos do que um acto de fé, uma fantasia, uma certeza que tomamos como certa mesmo sem prova que o confirme. Vivemos cada vez mais no futuro, no incerto, nas projecções, no medo. Esquecemo-nos muitas vezes que tudo muda, e que o “efeito borboleta” nos acompanha todos os dias. O mais pequeno gesto, a mais insignificante das palavras, pode ter grandes consequências nos acontecimentos futuros, mudando de forma radical o percurso previsto. Aí o “filme” cai por terra, ou melhora o enredo….
E então, com a ânsia de chegar “lá”, de confirmar a nossa projecção, a nossa “visão”, vivemos obcecados com aquilo, consideramos todos os cenários, procuramos o perigo, criamos soluções , desesperamos porque "assim" não vai resultar, e “que é que eu vou fazer agora?”, e aí choramos, vem o stress, a depressão, e……nada disto aconteceu.
Proponho o seguinte: Vivamos o presente e não o futuro. Sonhar, ambicionar, querer algo, sentir medo de perder, são características que compõem a alma do Homem, mas, não esqueçam que a Vida está a acontecer Agora, e que amanhã “não sei”…

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

"Big Boss"

Mesmo os cépticos, os não crentes, os chamados “pragmáticos” têm duvidas. Existe ali um resquício de fé que os leva a pensar, a sonhar, a acreditar. Cada vez mais, a “magia do além” é um assunto do dia-a-dia, uma discussão de pub, um sonho ao deitar. Essa dúvida, essa esperança, surge muitas vezes nos piores momentos da vida do Homem. Quando nos é retirado algo, alguém pela morte, a doença imparável. Aí sim, temos sempre a quem culpabilizar. “ELE quis assim”. Revelamo-nos crentes nesses momentos, e aceitamos “de mau grado” a Sua Vontade, e aí, temos fé que “esse alguém” que partiu, agora está melhor, num sítio lindo e em paz, que essa doença imparável que assolou o nosso corpo, irá ser travada pela Sua Mão, se Lhe rogarmos pelo poder da oração. Já repararam que o nosso “encontro” com Deus é feito, ou melhor, assumido por nós, quando perdemos, ou estamos prestes a perder algo que nos é muito importante? Que só recorremos a Ele, quando tudo o resto falha? Encaramo-lo muitas vezes como “ultimo recurso”, como o “Big Boss lá em cima” que tem a autoridade, a capacidade de mudar as regras do jogo?
Penso que o pragmatismo em relação á “Eternidade” é encarado por muitos como uma questão de “estilo de vida moderno”, porque “Vivo com os pés bem assentes na Terra”. Conferem as suas glórias e vitórias quotidianas apenas ao seu próprio trabalho e empenho, dizendo muitas vezes àqueles que contam com “Ele” como parceiro “Sou eu que faço a minha própria sorte”. Pois que seja, mas, quando “ta” roubarem, não venhas reclamar ao Big Boss!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Veneno delicioso

Muitas dessas pessoas que dizem “naquele tempo é que era”, provavelmente viveram mais tempo “naquela altura” do “que nesta altura”. Habituaram-se àquilo, á miséria e á ditadura… É quase como uma dor que habitou tanto tempo aquele corpo que, depois de removida, fez falta...Ou como aqueles casos em que a mulher ao fim de tantos anos a sofrer de violência doméstica, acha estranho quando o marido não lhe levanta a mão… e fica infeliz com isso. O ser humano é assim; Ao fim de algum tempo a viver na “lama” chama-lhe o mais felpudo dos cobertores, o seu pequeno mundo onde é feliz porque “podia ter menos que isto”. E a vida é feita destas vidas…
Convenhamos que nem todas são assim. Mas, todos nós, numa ou noutra altura, somos “encolhidos”, barrados pelas circunstâncias, sejam elas monetárias, políticas ou familiares. Não deixemos é que sejam por nossa opção, pela nossa vontade. O conformismo é um veneno viciante e muitas vezes delicioso…

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Direitos (Por Direito)

Eu tenho o direito de pedir o que eu quero.
Eu tenho o direito de dizer “não” a pedidos e exigências que eu não posso atender.
Eu tenho o direito a expressar todos os meus sentimentos - positivos e negativos.
Eu tenho o direito a mudar de opinião.
Eu tenho o direito de cometer erros e de não ser perfeito.
Eu tenho o direito de seguir os meus valores e crenças.
Eu tenho o direito de dizer “não” a tudo aquilo que eu não me sinta em condições de realizar, que seja pouco seguro ou que entre em conflito com os meus valores.
Eu tenho o direito de determinar as minhas prioridades.
Eu tenho o direito de não me sentir responsável pelas acções, sentimentos ou comportamentos dos outros.
Eu tenho o direito de esperar honestidade dos outros.
Eu tenho o direito de estar zangado com alguém que eu amo.
Eu tenho o direito a ser eu próprio e a ser único.
Eu tenho o direito de expressar medo.
Eu tenho o direito de dizer: “Eu não sei”.
Eu tenho o direito de não dar desculpas e justificações para o meu comportamento.
Eu tenho direito ao meu espaço e tempo.
Eu tenho o direito a ser brincalhão.
Eu tenho o direito de ser mais saudável do que aqueles ao meu redor.
Eu tenho o direito de sentir-me seguro e de viver num ambiente protegido.
Eu tenho direito a fazer amigos e a sentir-me confortável quando estou com os outros.
Eu tenho direito de mudar e de crescer.
Eu tenho o direito que os outros respeitem as minhas necessidades
Eu tenho o direito de ser tratado com dignidade e respeito.
Eu tenho o direito a ser feliz.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Parar...de vez em quando

Ultimamente apenas se ouve falar em política (as eleições no próximo Domingo), e em futebol (no clássico entre o FCP e o Sporting no próximo Sábado). Dois dos assuntos “proibidos” para discussão entre os comuns dos mortais estão na ordem do dia, tanto na comunicação social, como na boca do povo, alimentado debates nas mesas de café e bancos de jardim. Por isso, hoje neste blogue, vou completar a trilogia dos temas “indiscutíveis” falando, nada mais nada menos, de Religião. Não vou aqui fazer uma análise exaustiva em relação aos princípios, ás doutrinas e práticas que as religiões mais “normais” usam. Não. Vou apenas contar uma pequena história que aconteceu comigo há apenas alguns dias.
Quando as vi á porta do prédio, de pasta numa mão e um pequeno livro colorido na outra, olhando para mim com um sorriso largo e um pouco tenso nos lábios através do vidro transparente da entrada do prédio, vi logo que iria ser “travado” á porta. Testemunhas de Jeová. Profetas dos tempos modernos. Acelerei o passo, fingindo urgência e pressa, mas, já treinadas a reconhecer esse tipo de comportamento, as duas mulheres não se deixaram enganar. Parei. Estava encurralado.
“Desculpem…mas estou com um pouco de pressa…” Disse
“São apenas cinco minutinhos” respondeu a mais velha com uma voz meiga e sorriso simpático.
“Não me parece que cinco minutos sejam suficientes para me “venderem” uma religião nova, por isso é melhor ficar para a próxima” Respondi meio a brincar.
Apressei o passo em direcção ao carro que estava estacionado mesmo em frente do prédio e, enquanto o ligava, um sentimento mau invadiu-me o espírito. Estupidez. Eu fui um perfeito estúpido. As simpáticas senhoras apenas me pediram cinco minutos do meu "dispensável" tempo, que poderiam perfeitamente ser dez, apenas para me passarem a sua mensagem, as suas convicções. Por que não? Por que não ouvir? Porquê não dar uma oportunidade a alguém que quer apenas manifestar a sua fé? Não é isso que fazemos todos os dias? Nas conversas entre amigos, no trabalho, na família, no mundo? Em tudo o que fazemos e dizemos, o que estamos realmente a fazer senão dar um pouco mais de nós, as nossas ideias, as nossas certezas e convicções? Não seremos todos nós “vendedores de sonhos”? Vendedores de "visões" do mundo e de "verdades irrefutáveis"? Vendedores das nossas criações?



Não sou uma pessoa de convicções religiosas. Mas, de vez em quando reconheço que devia parar, nem que fosse apenas por cinco minutos para ouvir. Ouvir, para depois saber escolher, reforçar uma fé antiga ou então mudar. Uma coisa eu tenho a certeza. ELE existe. Apenas não sei o seu nome. Reconheço-o apenas por Pai.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Click

Para quase tudo o que fazemos existe um click. Queremos luz, click, televisão, click, rádio, click, lume, click, e por aí fora. É assim, a evolução faz com que não precisemos de nos esforçar muito para ter-mos aquilo que queremos. Sim, porque hoje em dia a população anda muito cansada. O que seria de nós sem esse poderosos clicks que nos abrem as portas de quase tudo? O que seria de nós se tivessemos de repente começar a fazer o trabalho dessas teclas silenciosas? Não quero nem pensar... Bem, só vejo um beneficio dos exemplos que enumerei. O lume. Se cada vez que quisesse acender em cigarro tivesse que esfregar um pau contra o outro, certamente que deixaria de fumar! Mas existem clicks mesmo imprescendiveis, por exemplo: Agora não é preciso sair de casa para fazer compras! Vejam só! Existe um tipo que vem a nossa casa entregar as compras que fizemos através do computador! Que clicks tão poderosos! Que maravilha! Ah se eu pudesse trabalhar dentro de casa, ouvir tudo e todos pelo click de telemovel... mais um click, e poderia ver o mundo no ecrã do PC, o esforço que eu não poupava...o conforto que eu podia ter... a qualidade de vida ali, á distância de um...Click.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Corpo e Mente

Falamos do nosso corpo como se ele fosse algo exterior a nós, algo que possuímos e controlamos como um objecto. "A minha perna, o meu peito, a minha cabeça..." Aquilo que vemos reflectido no espelho é apenas a imagem dos nossos "pertences"? É "aquilo" que somos ou, é "aquilo" que temos? Não sei. Sei que mesmo parado a dormir, o meu corpo assume a responsabilidade dos seus actos, deixando-me de parte com os meus sonhos. Ele é que comanda o cérebro, o coração, os pulmões, e muitos outros orgãos que eu nem sequer sei que tenho, durante o sono. Enquanto isso "eu" estou numa outra cidade do outro lado do mundo, a voar... A nossa relação com o nosso corpo é, quanto a mim, impessoal. Não sabemos nada sobre ele, a não ser claro, que tenhamos conhecimentos aprofundados de anatomia humana. Ele fala muito pouco connosco : "Tenho fome, sede, tenho sono..." e pouco mais. Ele guarda segredo em relação a tudo aquilo que eu não consigo ver ou sentir nele. Não me ajuda a ajudá-lo quando precisa... Acho muito injusto da parte dele. Afinal, eu trato-o bem e muitas vezes chego a ceder aos seus caprichos e desejos, sem fazer muitas perguntas e reservas.... É uma inconsideração! Até parece que não vivemos juntos há 29 anos...