sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Morena ó Morenita!


Nunca deixo de me sentir emocionado com aqueles que se entregam totalmente a alguma coisa. Não me refiro apenas “àquela” entrega em que nos atiramos aos grandes sonhos, aos grandes projectos, às ambições e conquistas de estilos de vida. Não. Falo, neste caso, de momentos; de apenas alguns minutos de puro amor, de pura libertação, daqueles pequenos instantes em que deixamos cair a máscara e nos revelamos, sem medo, sem preconceitos, mesmo correndo o risco de falhar.
Com isto, quero-vos contar uma pequena história.
Algures entre os meus catorze/quinze anos de idade, iniciei a minha vida “profissional” como músico. Na altura, juntamente com o meu melhor amigo, formámos o “Duo”. Os pais lá entraram com a “logística”, e nós lá nos pusemos a ensaiar. Começamos por ser aquele estilo de músicos virados, apenas e só, para o instrumental. Querendo com isto dizer que, só tocávamos e não cantávamos. Éramos muito bons nisso, e adoptamos esse estilo durante muito tempo. Aquando da primeira solicitação feita por uma colectividade para lá actuar, surgiu a ideia de «Porque não cantar?» e após uma profunda e inconsciente reflexão, decidimos «Vamos a isto!» Então, lá começamos a abrir as goelas para tentar fazer música com os estranhos sons que de lá advinham. Esta tarefa tornava-se muito difícil, porque era quase insuportável conter a vergonha que tínhamos um do outro, ao ver e ouvir aquelas duas tristes figuras aos “guinchos”. Eu desisti logo. Era muita a pressão. Mas ele, o meu amigo e sócio, persistiu, e atirou-se á fera com determinação, com amor. Era vê-lo aos berros, a desafinar, a “descarrilar”, e eu rindo, mas no fundo roído de inveja por não ter coragem para aquilo que estava mortinho para fazer, por conquistar. Confesso que, mesmo hoje, passados quinze anos, sinto um profundo orgulho, uma enorme admiração por aquele acto… (cerca de 100 pessoas á espera da 1ª musica do “Duo Musical Hélder e Ricardo”. Ele nervoso, até tremia. Antes de começar, ouço-o dizer «Olha…que se lixe, e seja o que Deus quiser!» Entra o solo em piano, logo seguido por… «Morena, ó morenita, cada dia tu estas sempre mais bonita…»

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Á Caça de Gambozinos


Outro dia dei por mim á caça de gambozinos. Sim! Nunca ouviram falar de Gambozinos? Continuando....bem.....muni-me de botas especiais, um camuflado á maneira, e, como não podia deixar de ser, uma rede toda xpto, que, com jeitinho, até apanhava aviões a jacto. Fui á noite, pela fresca. Estava completamente embrenhado nessa difícil tarefa de apanhar tal improvável animal. Com lama até aos cotovelos, e os espinhos da mata a rasgarem-me a pele, lá ia eu sorrateiro, á escuta, completamente alerta e desperto. Andei durante horas, dias, semanas, e depois disso, andei mais algumas horas, mais alguns dias, e mais umas tantas semanas, sem pôr os olhos no bicho, até que, cheguei ás seguintes conclusões: Ou o animal entrou em extinção, ou hibernou para o outro lado do planeta! Não, Não podia ser. Ele tinha que estar ali, escondido decerto, mas definitivamente ali. Bastava um pouquinho mais de esforço, um pouquinho mais de insistência e determinação…
Enquanto perscrutava a imensa floresta em busca do “desaparecido”, dei por mim a olhar, a ver algo que ainda não tinha reparado antes. Aquele lugar era realmente belo. As árvores, o verde das folhas, o eterno silêncio, interrompido apenas pelo sussurrar dos bichos, faziam daquele lugar um pequeno paraíso. E ali estava eu, sozinho na caça, á procura de algo que nem sequer tinha a certeza que existia, apenas de ouvir falar…
No caminho de volta para casa, escusado será dizer que a minha fantástica rede apenas apanhou algumas desprevenidas lufadas de ar, e uma ou outra desfalecida folha de árvore…Mas, se querem mesmo que vos diga…caramba! O passeio soube-me mesmo bem!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Realidade


Aceitamos a realidade tal e qual como ela se apresenta. Sempre. Aquilo que vemos, aquilo que conseguimos tocar, ouvir, cheirar, é, sem margem para qualquer dúvida, tudo aquilo que compõe o Mundo, apenas e só. Muitas vezes dou comigo a pensar nestes termos, mas, existe sempre aquela dúvida, para alguns algo fantasiosa, mas que para mim, teima em marcar posição de uma quase certeza, uma lógica fundamentada com poucas lacunas a preencher.
Sim sou um crente. Não, não sou religioso, nem simpatizante de uma qualquer doutrina religiosa. Penso que é quase insensato admitir que o aparecimento do Universo, da Terra, da Humanidade, da Realidade, tenha sido fruto de uma colossal, de uma gigantesca coincidência. Não. Também não acredito em coincidências. Se pensarmos um pouco nisto, e se analisarmos todas as condições físicas, químicas, bioquímicas, relacionadas com temperaturas, composições do ar, da água, e de todos os outros elementos que “trabalham” em equilíbrio para a nossa sobrevivência, irão constatar algo de muito interessante. Todos eles obedecem a principios muitíssimo especificos, em que as substâncias interagem de uma forma “milimétrica”, com regras de equilíbrio entre si rigorosíssimas, e se, assim não fosse, não existiria vida na Terra. Bastava para isso, por exemplo, haver uma ínfima diferença de quantidade de dióxido de carbono no ar. O mesmo acontece com a temperatura e com os muitos outros elementos que, embora não os conheçamos, são essenciais para a existência de Vida no nosso planeta. Ínfimas diferenças...Curioso… Parece até que, no momento da Criação, uma mente inteligente esteve á cabeça do “projecto”.
Se este pensamento vos parece fazer algum sentido, porque não admitir que a Realidade também é composta por elementos invisíveis, inaudíveis, que não conseguimos cheirar e tocar?
Porque não admitir que, entre o “Céu e a Terra” existem elementos “escondidos” dos nossos apurados sentidos que contribuem, também eles, para o nosso equilíbrio, como os "velhinhos" quatro elementos?
Sim, para mim a Realidade tem muitas faces…

domingo, 22 de novembro de 2009

Lugares Elevados


Há-de sempre existir motivos que, em apenas uma ou em duas assentadas, nos deixará mais contentes, assim como elevados a quase um “expoente máximo de felicidade, ou, porventura, mais tristes, como quem se afunda do alto de um abismo, deixando-nos esmagados e espalmados no chão. Como uma espécie de balão a hélio, depressa ora somos projectados lá para cima, para junto das nuvens, onde somos embalados pela doce brisa do vento, aquecidos e protegidos pela ternura do Sol, assim…felizes da vida e coisa e tal, e, num outro momento, aquela fina agulha afiada, quase invisível e vinda do nada, nos “fura”, atirando por terra aquele momento que nos levou tanto tempo a levantar e a pôr no ar. Esta incessante batalha, este constante desafio que se chama Felicidade, leva-nos, cada vez mais, á procura de nova rampas de lançamento, daquelas que nos possam dar um maior impulso de voo, e atingir lugares mais “altos”. O problema, quanto a mim, é que, cada vez mais, esses “lugares elevados” que outrora nos faziam vertigens, nos parecem agora flutuar a apenas um metro do chão. Existem mesmo alguns que de tanto subirem, já se encontrem quase fora da orbita terrestre, pensando que ainda estão quase em contacto com a superficie plana da terra, sem se darem conta que o ar que respiram é cada vez mais rarefeito, escasseando a cada segundo de distância da superfície do solo, e que aí, se encontram muito poucos, que tal como eles, vivem longe e isolados do mundo, das pessoas, fechados, aprisionados naquele enorme espaço vazio que é o “alto patamar”, o “alto” da Felicidade.
Quanto a mim, prefiro aquele patamar mais baixo, construído apenas por frágeis tábuas de madeira, de cobertura de palha, aquecido apenas pelo calor das pessoas, com recursos limitados para o conforto, pois dá-me a ideia de estar no lugar mais alto do mundo, mas, na realidade, muito perto do chão, onde a realidade é dura, mas onde o ar flui mais fresco e em abundância…

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Cara a Cara


Esta tendência que temos para a ironia, para a hipocrisia, é, muitas vezes, mais forte do que nós, do que a nossa vontade. É quase uma força irresistível essa que nos empurra na direcção dessas palavras, desses comportamentos que, muitos defendem, só nos ficam mal, e nos destroem por dentro. Convenhamos que, nem sempre pomos em pratica essa nossa habilidade. Penso que, na maioria dos casos, esse nosso “ataque”, ou essa nossa “defesa”, é dirigida a alguém que, apesar de não nos ter feito mal algum, nos inflige um “problema” que, por qualquer razão, não sabemos explicar exactamente qual é.
Nesses casos em particular, e de forma a não transparecer o nosso desagrado, a nossa falta de vontade de ali estar com “essa” pessoa, a ironia e a hipocrisia funcionam quase como um escape, um desafio á nossa inteligência, que nos ajuda a manter ocupados num jogo de palavras “contrárias” daquelas que, na realidade, gostaríamos de dizer.
Embora essas atitudes irónicas e hipócritas sejam um defeito, não posso deixar de as admirar em alguns pontos, de as considerar como uma espécie de arte; arte essa a que apenas alguns aspiram a representar com direito a Óscar e tudo…
Estas duas formas de ser e de estar, têm que ter o seu “que” de subtileza, têm que ter o seu “que” de naturalidade, terão que fluir dos lábios com a doçura e a inocência de uma criança, para que as suas mensagens indirectas e subliminares não sejam detectadas aquando do “impacto”, mas subentendidas após cuidadosa reflexão por quem as recebeu.
Não sendo eu perfeito, confesso que tenho bastante jeito para a “coisa”, mas dificilmente jogo este “jogo”, isso porque não existe nada de mais libertador e divertido do que a verdade…cara a cara.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Verdade Verdadinha


Claro que se toda a gente o diz, é porque só pode ser verdade. A partir do momento em que um determinado número de pessoas, número esse que eu não sei precisar qual, aceitam o “tal” facto, a “tal” história, mesmo sem provas que a sustente como sendo verdadeira, ela passa a ser automaticamente verdade. Somos assim. Fáceis de levar, fáceis de influenciar. Não questionamos muito, não nos chateamos muito, preferimos o prato já cozinhado e pronto a servir. É incrível como as quantidades deturpam os factos, influenciam as massas. Quantos de nós é que já não assistimos ao recrutamento de adeptos, de crentes, de testemunhas de uma determinada “verdade”? Sim…basta ver televisão, e assistir aos telejornais. Mas, este interessante fenómeno não acontece apenas nos cenários políticos, desportivos, religiosos, distantes de nós. Acontecem á nossa porta, na nossa vida diária, ali, ao virar da esquina. Os boatos, as crenças, as ditas verdades, são espalhadas de boca em boca, ganhando gradualmente esse estatuto de “verdade verdadinha”, mas, muitas vezes, camuflada como segredo absoluto em que apenas toda a gente sabe…

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Passe de Mágica


É. O Tempo não pára. Não pode, nem deve parar, mesmo se o conseguisse. Quantas vezes o desejamos, quantas vezes o exigimos, pela força daquela circunstância especial, em que nos vimos “ali” tão bem, tão amados por aquela companhia, ou naquela hora fatídica, sufocados pelos incessantes segundos que nos empurrava, levando-nos cruelmente ao abismo, ao limite da imposta “dead line. É curioso este Tempo. Tem os seus caprichos, os seus timings, não cedendo um segundo que seja de atenção a quem tanto encarecidamente lhe pede que abrande o seu frenético passo, ou então, que corra apenas mais um bocadinho. Existem pessoas que passam o dia a “pedir-lhe” que os levem rapidamente até o final do dia, assim, num fôlego, como um passe de mágica. Preferem a “anestesia” á tortura dos segundos, das horas, dos dias, da Vida… Preferem que tudo acabe depressa, para voltar ao mesmo dia, ao dia seguinte, para realizar esse desejo de novo, assim numa roda incessante, pois o Tempo não pára, mas, de quando em vez, o Tempo faz-lhes a vontade, e rouba-lhes um pouco mais de “existência”, mas com um preço…um preço alto e sem retorno... A velhice, e com ela o arrependimento, um novo desejo, o de estar acordado em todos os segundos de todas as horas, e que “ele” se esqueça, uma vez por outra, de passar nestas bandas…

domingo, 15 de novembro de 2009

Doentinho


Logo agora, nesta altura do campeonato, tinha que ficar assim. Doente. Finalmente, a gripe conseguiu apanhar-me e instalar-se no corpo. E não, respondendo á vossa pergunta, não é a gripe A. É uma sensação estranha esta de estar doente. O corpo não responde como o habitual, e a frustração de estar aprisionado, limitado, até nas coisas mais simples e normais, como o falar, como o respirar sem dificuldade, como o andar, sem parecer um velhote de 86 anos, como o abrir os olhos sem lacrimejar, tornam-se tarefas difíceis, desafios em todos os momentos. Para além do facto de estar “incapacitado” por todos estes factores, existe um lado positivo e agradável nisto tudo. É tão bom ser tratado pela mulher que se ama… não por sentir que ela está ali para ser a nossa criada/enfermeira particular, mas pelo facto de que, inadvertidamente, voltamos a ser crianças, com aqueles comportamentos e birras que fazem parte da inocência infantil. É bom ser mimado, ser aconchegado nos cobertores, estar dependente dela para quase tudo. Tirando o facto de estar praticamente sem voz, os olhos vidrados pelas lágrimas, já não sentir o nariz, e mais todos aqueles sintomas que vocês já experimentaram, confesso que, pelo menos nos próximos dias não me vou importar muito de ser uma criança birrenta, mimada, vulnerável.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Não Era Eu


Sete e meia. Levantar, o banho, a barba, o fato, o nó, o outro nó, mudar de gravata, os sapatos, os outros sapatos, as chaves, onde estão as chaves?, o carro, o portão da garagem, lento…lento…lento…, o prego quase no fundo, o stop. Parado. O rádio, aquela estação, essa não, a outra, o trânsito, a fila, a escapatória, a outra fila, o cigarro, o telemóvel, “mais dez minutos estou aí!”, vinte minutos, o trânsito, o stress, o rádio, a música, o cigarro. Parado.
No vermelho do semáforo, vejo um homem no espelho retrovisor. Era eu. Não, não era eu. Aquele homem tinha um olhar triste, apagado, cansado. Não, não era eu. Se fosse eu, estaria com um sorriso nos lábios, e o brilho dos meus olhos fazer-se-iam notar mesmo através das lentes escuras dos óculos de sol. Não, não era eu. Se fosse eu, deixaria com certeza aquele carro ali parado no meio do trânsito e sairia disparado a correr pelas próprias pernas. Não, não podia ser eu. Aquele era um estranho. Sim, um estranho, porque se fosse eu, não estaria naquele carro, a correr por algo que não quer, a vencer uma batalha que nunca quis travar. Não, não podia ser eu. Se aquele fosse realmente eu, deveria saber que, muitas vezes quando se ganha, perde-se.
Se fosse eu, dispensaria os troféus, os títulos, as honras…
Sim, se aquele fosse eu, era feliz sem nada para mostrar…
Não, ele não era eu…

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Arco da Ponte


Há dias, num desses domingos pachorrentos, fui dar um passeio ali para a zona da Ribeira do Porto. O dia estava esplendoroso. O sol brilhava nas águas do Douro, e as lojas abarrotavam de turistas, que admiravam postais, os barquinhos rabelos, e todos aqueles artefactos característicos da nossa cidade. Olhavam para a Ponte D. Luís, e disparavam fotos dos putos que saltavam dela para recuperar a tuta-e-meia atirada por alguém.
Enquanto tomava o meu café e fumava o meu cigarro, ali numa esplanada junto da Ponte, não pude deixar de reflectir no seguinte: De tanto estarmos habituados a ver determinada paisagem, seja ela uma cidade, seja ela um quadro, ou mesmo uma pessoa, muitas vezes deixamos de reparar na sua beleza, na sua grandiosidade, o quanto “ela” é importante na nossa vida. Os nossos olhos habituam-se de tal forma “àquela forma”, que ela, com o passar do tempo, perde relevância, importância, torna-se quase invisível, transparente, pelo menos enquanto “dali” não sair, enquanto “dali” não for roubada. Cheguei á conclusão que, muitas vezes andamos assim, como dizer…, habituados do mesmo, daquele cenário de sempre, daquela pessoa de todos os dias, daquela Ponte de sempre, com as conversas de sempre, com os putos de sempre. Depois, vem alguém de fora, de outro país, com aquele olhar de “algo de novo”, de cobiça, de alguém que enxerga pela primeira vez, e chama-nos á atenção daquilo que é nosso, daquilo que nos esquecemos de olhar, daquilo que amámos mas que nos esquecemos de cuidar, de admirar, de “tocar”, e aí, acordamos e lembramos o quanto “aquilo” é importante, o quanto descuramos e esquecemos aquela Ponte, o quanto retiramos e não oferecemos a esse rio, a essa pessoa…
O dia em que cegamos, é o dia em que perdemos a capacidade de olhar, de nos maravilhar, uma e outra vez com as dádivas que o Universo nos pôs no caminho… ali no desenho da tela, na pessoa do nosso lado, na imagem da cidade, no arco da Ponte…

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Hoje Vou Por Ali...


Todos os dias tomamos decisões. Umas mais importantes do que outras, como é óbvio. “Hoje" a Vida fez-me uma pergunta em jeito de desafio. Um desafio sério, empolgante, mas envolvido por riscos, por incertezas, por mais riscos, e por mais incertezas. Mas, em ultima estância, e se correr bem, o realizar de uma ambição antiga, um sonho.
Depois de reflectir bastante, de visualizar todos os cenários possíveis, de ouvir as sábias palavras, preenchidas de sinais de perigo e de alguns de “sentido obrigatório”, desenhados por ela, a minha linda mulher, decidi.
Sim. Se calhar, “Hoje”vou por ali. Sim, por ali. Vou mesmo por aquele caminho diferente, desconhecido. Não sei até onde ele vai, se é estreito, largo, escuro ou luminoso. Não tenho mapa nem indicações. Apenas esperança, apenas o sonho. É um caminho novo que surgiu ao lado daquele do “costume”. “Hoje” é o dia, é aquela altura em que tenho de me deixar “disso” do “cortar caminho”, do procurar estradas lisas de asfalto com barras de protecção. Tenho tempo para experimentar, para arriscar, para apostar de novo, ou talvez não, mas, partindo do princípio que sim, não quero saber quanto tempo vou demorar a “andá-lo” , ou mesmo quantos quilómetros terei que percorrer até encontrar a próxima área de descanso, para levar a boca á garrafa de oxigénio e respirar de alívio. Não vou sozinho, embora durante a caminhada vá só, com o medo no meu encalço e a excitação no peito… Vou tentar não seguir as pegadas de alguém, prefiro me perder, cair neste e naquele buraco e levantar-me de novo, sim, assustado e com dúvidas, com vontade de regressar, com vontade de desistir, com vontade de parar… Mas, mesmo assim, se calhar hoje vou por ali. Sim, por ali...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Vai um Copo?


Não existe nada melhor do que estar com a família. E por “família”, refiro-me também aos amigos. “Àqueles Amigos”. Aqueles chegados, aqueles irmãos em que a única coisa que não partilhamos é o sangue. Para mim, a amizade, a cumplicidade, o “dou a minha camisa”, é tudo. É um tipo de amor diferente aquele que nos liga, que nos diferencia nas nossas imensas diferenças e feitios, mas que, em última estância, nos une por aquele fortíssimo elo invisível, que não tem qualquer relevância legal, sujeito a divórcio. Houve alguém, um dia, que me transmitiu este pensamento, que eu, por qualquer motivo, reti na memória, e que é mais ao menos este: “Amigos não são apenas aqueles que conhecemos há vários anos. São aqueles que estão connosco, hoje, agora, e quando são precisos…”. Considero-me um Homem de sorte, porque faço-me acompanhar por excelentes pessoas, excelentes amigos, excelentes irmãos. Reconheço que, devido ao meu feitio, fechado, crítico, muitas vezes impositivo, não demonstro de forma clara, visível, pelo menos por palavras, o quanto lhes estou grato pela sua amizade, pelo seu amor, pela “sua camisa”. Aprecio todos aqueles momentos de “vai um copo?” naquela velha tasca a cheirar a mofo, ao fim do cansativo dia de trabalho, apenas para desfrutar daquele momento de silêncio “cómodo”, mais normal entre amigos homens, tudo com uma forte intensidade. Sou pela companhia, não pelos locais. Sou, muitas vezes, pelo forte abraço e não pelas palavras, sou pela acção e não pela intenção. Sou exigente na amizade, embora não seja pelas “cobranças”, pela obrigação do estatuto. Sinto, todos os dias que, essa relação, esse convívio, essa partilha de vida que temos, me ajuda a crescer, me ajuda, cada vez mais, a ser uma pessoa melhor, mesmo com todos aqueles defeitos que, de certeza, no “fim” me ficarão para durar…

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Lado Lunar


O Mundo, tal como o conhecemos, foi criado, sem excepções, por opostos. Assim como o reverso da moeda, esse “outro lado” revela-se em rigorosamente tudo o que existe, e, inclusive, em tudo aquilo que apenas acreditamos que exista, mesmo sem “o” conseguir-mos ver, sem o conseguir-mos provar. Dizem que Deus construiu o Mundo desta forma para que pudéssemos escolher. Escolher entre o dia e a noite, entre o quente e o frio, pelo bom e pelo mau… O ser humano, como tudo o resto, é composto por estas “duas metades” em oposição. Assim, como um espelho negro da alma, reflectimos muitas vezes uma imagem que desconhecemos, uma imagem distorcida de nós próprios. Desconhecemos os seus limites, o seu temperamento, a sua razoabilidade, as suas intenções. Esta nova imagem, é, toda ela, uma nova personalidade, com um pensar, com um sentir, com um “ser” próprio, cujos traços nos são estranhos. Ela é, quer queiramos, quer não, metade do “Todo” que somos, metade do “todo” que sentimos. Todos nós, temos “esse” nosso “Lado Lunar”, claro que, uns mais escuros, e outros, mais para o acinzentados… Durante o meu dia, dou muitas vezes comigo a discutir com esse meu “irmão gémeo”. Sim, digo irmão gémeo, porque “ele” faz parte de mim, ele, de facto, sou “eu”, e não um qualquer espírito que ocupou o meu corpo com desejos de vingança e acessos de fúria, (embora muita gente encontre “aqui” algumas explicações para esse seu “outro lado”). Temos batalhas quase diárias, ele é forte, persistente e valente. Gosto de combater com ele, e claro que não há “vencidos permanentes”, apenas entendimento mútuo, e, no campo de batalha, leva “a melhor”quase sempre aquele que conhece bem o seu inimigo. Aprendo, todos os dias, a conviver com este meu “irmão” (que agora está a dormir), e as batalhas, nem sempre são ganhas por mim…O facto da “Escuridão” viver dentro de nós, não significa que não tenhamos Luz nos nossos olhos, porque, tudo o que dizemos, fazemos, sentimos, é uma escolha, vinda de uma luta entre o "Bom e o Mau" que coabitam em conjunto…