quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

"A Outra Margem"


Muitos de vós que se dão ao trabalho de visitar este meu “Quatro Elementos” não sabem que, há cerca de oito meses iniciei um projecto que se intitula de “A Outra Margem”. Este meu aspirante a Livro começou a ganhar forma na minha cabeça há alguns anos, mas, por qualquer motivo justificado pelas desculpas do costume, foi adiado até Maio passado. Estava tudo na minha cabeça, desde as personagens, os locais, o enredo, enfim, tudo.
Iniciei devagar, tímido, envergonhado comigo próprio, mas essas não eram as principais barreiras á concretização; Não, o “problema” era mais práctico. Era falta de práctica.
Não habituado a pensar devagar, as teclas do computador revelaram-se nessa fase um problema, pois travavam-me a fluidez de pensamentos, fazendo-me muitas vezes perder “aquela frase”, “aquela forma de dizer que ainda há pouco li na minha cabeça”, aniquilando dessa forma o gozo do “processo criativo espontâneo”. Perdia muito tempo com essa questão, e quando por fim parava, parava por cansaço, nunca pela falta de vontade.
Mas, com o tempo e o treino, lá os teimosos dos desabituados dedos começaram a se familiarizar com a complexidade de botões negros ordenados de forma estranha, e aí sim, a história começou a escorrer para o “papel” como água. Não faltava inspiração, e mesmo sem tempo, tinha tempo para ela, para essa minha viajem, esse meu sonho escondido.
Escrevi durante algum tempo de forma regular, sem nunca parar na história para lhe mudar o rumo, a vírgula, um ponto sequer, pois tudo era contado “daquela forma”, “da minha forma e feitio”.
O tempo continuou igual a si mesmo, mas eu, por qualquer motivo, deixara de ser igual a mim mesmo...Algo mudou e eu não sei o quê, o porquê. Aí parei. Parei tudo.
Algures no amaranhado de bytes e gygabytes do meu computador, esconde-se um bocado de mim, um pedaço da minha alma. Um sonho arquivado numa prateleira digital á espera de continuar caminho, á espera de um “FIM” ao terminar dos capitulos.
Há dias “avistei-o” a navegar no azul do ecrã junto de um ficheiro entitulado de “Relatório DIM”. Perante aquele cenário pensei: “Ora aí está...um pedaço daquilo que eu sou, e um pedaço daquilo que eu tenho, e este segundo, teima em aparecer em primeiro plano, como o mais importante, quando na realidade não é...”
Enfim, espero um destes dias abrir de novo essas “ingénuas páginas” que tanto me deram prazer de escrever, isso se elas me perdoarem o abandono...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Foto do Passado


Adoro ver as minhas fotos de infância. Quando vejo aquele rapaz de cabelo claro com ar de traquinas, fico sempre emocionado. Lembro-me dele, o que ele pensava, o que ele sonhava conquistar na vida, o porque ele sofria, o porque ele chorava , o porque ele sorria... Quando vejo a sua imagem e olho fundo nos seus olhos castanhos, noto que há um brilho de tristeza, uma mágoa disfarçada e escondida pela ternura do sorriso... Ele foi eu, não..., sou eu.
Recordo-me dele com os amigos. Era o mais pequeno do grupo, porém o mais impetuoso, o mais sério e preocupado, o menos criança. A vida era-lhe dura e dificil, mesmo tendo os bolsos recheados de notas que raramente chegava a gastar. Não, ele não queria coisas; Ele gostava mesmo era de ser ouvido, apreciado e reconhecido como o mais inteligente, o mais bem falante, o líder. Sim, ele era o líder que nunca falou alto, que nunca andou á pancada, que nunca humilhou ou envergonhou um amigo. Ele, esse miudo, era justo, terno, fiel a principios de caracter muito raros na idade dele.
Hoje sei que ele, esse rapaz, viveu muito pouco, a sua infância foi adiada... Muito lhe foi negado, muito lhe foi roubado, obrigando-o a ser mais alto, mais sério, mais homem, mais cedo do que deveria...
Hoje, quando ele sorri, o seu sorriso é sincero como o do rapaz da foto, esse rapaz que ainda vive na minha alma, no meu coração, e que, sempre que pode, aparece para jogar á bola...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sonhos Desfeitos


Portanto é assim: Ou se faz, ou não se faz. Agora andar aí no “pois e tal, porque se calhar não vai dar e não sei quê…” é que não. Não gosto de impasses, de desculpas inventadas há última da hora para justificar o medo, a falta de coragem e de garra. Já pensaram que, sempre que voltamos a rever os prós e os contras de um plano, os contras vão ganhando terreno, uma importância que á partida não tinham? Pois é... e Conclusão: Damos para traz e, em grande parte dos casos, desistimos. Chego á conclusão que nós, seres humanos, às vezes pensamos demais. Vamos do céu ao inferno num estalar de dedos, damos voltas e mais voltas á cabeça, tentando prever, antecipar, adivinhar, mesmo sem sermos bruxos, o futuro; futuro esse que quanto mais pensamos, mais pintamos de negro...
A tendência que temos de desistir de um sonho quando ele está prestes a realizar-se é lamentável, triste. Parece até que temos medo de ser felizes, ou então, e por qualquer motivo desconhecido, achamos que não o merecemos. Somos cruéis connosco próprios, pois aceitamos a ideia distorcida que a vida não nos iria dar uma “oportunidade daquelas”, não porque “não pode ser assim tão fácil para mim, porque eu não fui talhado para grandes coisas, grandes voos. Nunca foi assim! Porque seria agora?...”. E é assim meus caros, é aqui que nasce a dúvida, o medo, a incerteza, e o fim de um processo que muitas vezes não chegou sequer a nascer, e aí, no lamento do “fim”, pensamos com fraca esperança “Sim, é melhor esperar que apareça uma oportunidade que me pareça mais impossível, porque essa, com toda a certeza, será mais real, mais exequível.”
Claro que, quando lá chegamos, a essa nova chance, de novo tudo nos parece mais complicado, mais irrealizável, um sonho ainda mais absurdo que o anterior, e, mais uma vez, o “coisa e tal…porque não sei quê” vem com força suficiente para deitar tudo por terra, destruindo-nos mais um pouco durante o processo…
Lembrem-se que, os sonhos recalcados com o tempo morrem, mas… cuidado, pois eles continuam a habitar a vossa alma, empestando o ar…

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Deuses na Terra


Somos uns excelentes críticos dos outros. Se estivermos atentos, facilmente sabemos dizer onde muitos falharam, onde fulana e fulano de tal podiam ter feito melhor, onde este e aquele e a prima do outro foi fraca e incompetente, e onde tantos outros perderam mas que conseguiriam, se tivessem os nossos olhos é claro, ter ganho. Sabemos também quais as justas consequências que, assim em jeito de juízo e julgamento, devem ser aplicadas nas palavras da “crítica construtiva” a tantas dessas “falhas”, de forma a “castigar para ele aprender”, sim para ele, o dito aluno, retirar das nossas palavras a redenção da alma, e a experiência da vida. Se ao menos todos ouvissem a “nossa mente brilhante”… então aí é que era! Certamente que depois da nossa sábia palavra, depois da melhor visão, a nossa visão logicamente, o mundo seria abençoado com a rara capacidade de ver aquilo que quase ninguém consegue ver, a “verdade de tudo”! Aposto que muitos de “nós” gostaria de prestar esta tão importante ajuda ao mundo e, estou em crer, que não nos importaríamos muito que esse fosse um “serviço” quase sempre gratuito, assim como Deus o faz... Estamos cá, prontos para ajudar e gostamos de ajudar, de apoiar, de sermos a luz de quem percorre o túnel, a sabedoria, a inspiração para os desinspirados. Saibam que as nossas palavras são pérolas, e as nossas visões caminhos para o sucesso. «Quem quiser viver sem errar um milímetro que seja, basta vir falar com “um de nós”!», sim porque é “aqui” que está a verdade, é aqui que vivem os Deuses do plano terreno, dentro de todos e de cada um dos iluminados…
Só tenho pena que nós “Deuses Terrestres” sejamos donos de tanta sabedoria, de tanta perfeição, mas que não saibamos olhar e julgar o nosso próprio reflexo… Se nos conseguíssemos ver com a clareza com que vemos e julgamos os outros, certamente aí, de frente do espelho, ficaríamos calados e se possível escondidos, para que não nos encontrassem…

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Vozes da Rádio


Interrompidas apenas pela música e pelo anúncio publicitário, estão sempre ali, presentes, constantes, teimando em nos ocupar os ouvidos com os seus monólogos e perguntas retóricas, entretendo-nos com piadas, passatempos, prémios e discussões acaloradas. Ao longo dos intermináveis km´s de estrada que me conduzem aos habituais destinos da instalada rotina, elas, as vozes, são forçosamente a minha única companhia, amizades já seladas por anos de convivio mas ainda sem cara, ocupantes nos lugares vazios e que sem cerimónia e entrave me tratam por tu. As vozes. Graves, profundas, agudas, estridentes, alegres, preocupadas, irritadas, serenas, teimam em falar comigo como se um passageiro sentado ao lado fossem. A rádio.
Enquanto da beira da estrada as muitas tabuletas de “Bem-vindo a…” e de “Volte sempre a…” me acenam adeuses, essas vozes desprovidas de corpo vão alternando com frequência, um problema de frequência aposto, passam a ruídos de fundo. Com o tempo e a distância, dou por mim hipnotizado. Não o sei, mas estou. Agora não ouço, não vejo, não sinto. Tudo é automático, até o cigarro na ponta dos dedos. O caminho passa a ser uma longa recta de alcatrão sem curvas e contra curvas a curvar. Sou conduzido pelo carro, embalado pela cacofonia das estações que se atropelam a cada cinquenta metros. É o meu corpo que está atento e não eu, sim porque “Eu” estou a voar, a deixar-me levar pelo vento…
Correndo o risco de se questionarem se eu me encontro de plenas capacidades mentais, não posso deixar de considerar algumas hipóteses: Nunca vos passou pela cabeça que, durante esse periodo de "adormecimento de sentidos" muitas dessas vozes de palavras isoladas, algumas delas arrastando-se por frases gastas e monocórdicas, estão de alguma estranha forma a falar directamente com o nosso inconsciente, com a nossa alma, dando-nos respostas e formas de pensar sobre assuntos e questões muito concretas da nossa própria vida? Já se questionaram se, de forma a nos ajudar a obter soluções para os mais variados problemas que habitam no nosso corpo, eles, os nossos guias e mentores espirituais, não recorrem a outra frequência, manipulando uma outra via, para que nós, simples e limitados corpos terrenos, possamos escutar e assimilar mesmo sem estarmos de facto a ouvir essas… vozes da rádio?

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Corpo de Lata


Ídolo significa também “Objecto de grande paixão”. Não tenho nada contra os idólatras, e se querem mesmo saber, olhem...quanto a mim…cada qual idolatra como quiser e como bem entender o “tal” a quem decidiu pôr no seu pedestal de ouro pessoal. Isso é lá “convosco”. Mas, há um ponto no meio de tudo isto que eu tenho alguma dificuldade em entender e aceitar, e que é basicamente o seguinte. Quando chamamos alguém de “meu ídolo”, no fundo estamos, nestas escassas duas palavras, a dizer que esse “espírito elevado” é representativo de uma ideologia, dono de uma série de características com que nos identificamos e revemos quase totalmente. Um ídolo, abreviando, é alguém que admiramos profundamente, alguém que respeitamos de forma a raiar a divindade, alguém por quem nutrimos paixão e que é exemplo daquilo que nós próprios gostaríamos de ser, certo?
Como sabem, ao longo da História do mundo, muitos nomes foram apontados como ídolos, como ícones. Falo, neste caso, de homens e mulheres que, de uma forma profundamente marcante mudaram formas de pensar, formas de agir, influenciando o futuro e a história de sociedades inteiras. Foram adorados na sua essência, na sua original diferença e capacidade e, por isso, destacaram-se dos demais com algo de seu e inimitável. Olhando para a nossa realidade presente, é cada vez mais frequente notar que, a grande maioria daqueles que são postos nos "altares de adoração" são escolhidos pelos princípios errados, ou melhor, por fracos e pobres argumentos, não acham? As pessoas “comem com os olhos”, e apaixonam-se pelo “cheiro”. Vão ao sabor do vento, atrás da moda do momento, sem questionar muito se por detrás daquele original penteado a combinar com a aerodinâmica de um potente carro está uma mente inteligente e com algo de novo para oferecer ao mundo…
Felizmente, e como quase tudo na vida, as modas vêem e vão, e com elas essas “estatuetas de ouro” que durante algum tempo souberam esconder o seu real “corpo de lata”…

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Teimoso


Se há uma característica facilmente identificável para aqueles que conhecem a minha personalidade, ela é, sem sombra de dúvida, a teimosia. Sim, sou teimoso, muito teimoso. Que é que querem? Olhem, sou assim e pronto. Mas, e agora que penso um pouco nisso, cada vez mais, erradamente há que dizê-lo, me convenço que esse meu defeito teima a parecer-me mais uma virtude que outra coisa qualquer, uma arma em riste que me permite levar a melhor em muitas “guerras”. Não, não gosto de perder “nem a feijões” como dizia o outro, mas, neste caso em concreto, a sorte não tem nada haver para o caso. Talvez pelo hábito do defeito profissional, sou perfeitamente capaz de desmontar um argumento bem fundamentado, de criar uma séria dúvida no coração de uma ideia bem concebida, só para satisfazer a minha vontade, o meu capricho, o meu interesse. É com relativa facilidade que me consigo desprender de emoções quando estou em guerra de ideias. Sou objectivo, frio, quando teimo que o “outro” não pode, mesmo que o mereça, levar a dele avante. Aí nesses casos, é ver-me às voltas, a fazer grandes “viagens”, muitas delas por lugares que nem sequer existem, a atravessar oceanos, a escalar montes e vales apenas para lhe “dar o nó na cabeça”, a levá-lo a crer que, afinal, ele não estava tão certo como imaginara, e, finalmente convencê-lo que o melhor caminho, ou o melhor argumento é, sem sombra para qualquer dúvida, o meu. Sim, é o meu porque eu teimei que tinha que ser o meu. Porquê que tem que ser o meu? Ah…isso não sei. Escusam de teimar porque não sei.
Mas sabem uma coisa? Isto de ser teimoso tem os seus “quês”. Muitas dessas guerras que travamos em nome da teimosia, não são na realidade verdadeiras batalhas. Nós, neste caso eu, é que as crio na minha cabeça. Esse estúpido orgulho, essa mania do "eu é que sei" quer sempre levar a melhor e, na grande maioria das vezes, magoa, prejudica o alguém "do outro lado, podendo até acabar por destruir a relação. E tudo isso em nome de quê? Do Ego? Em nome “dessa razão” que, na realidade, não precisamos do nosso lado? Convenhamos que a teimosia fundamentada revela inteligência quando utilizada com lógica, com verdade, muita dela manipulada "á nossa maneira" é certo, e em alguns aspectos profissionais isso chega até a ser determinante para o cumprimento de objectivos; Mas... essa mesma tal teimosia é completamente desnecessária quando utilizada como capricho, quando surge como forma de desafio que constantemente teima em pôr á prova essa nossa capacidade de criar uma “outra verdade” mais verdadeira, quando na realidade não a é... Claro que também existe aquela teimosia que assenta nos “não é, porque eu não quero que seja!” ou pelos “é assim, porque eu digo que é assim!”. Nesses casos, essas formas de estar, de ser, não são caracterizadas pela teimosia, mas sim pela estupidez, e isso já é outra coisa…

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

(- 364)


E aí estamos nós, novamente em contagem decrescente para a entrada do novo ano que se avizinha. Restam-nos apenas uns escassos 364 dias para nos dedicarmos á realização dos compromissos que, nos nostálgicos últimos segundos do passado ano, nos comprometemos a pés juntos a fazer tudo por tudo por cumprir.
Nessas derradeiras últimas badaladas que puseram termo a 2009, a grande maioria de nós, aposto, foi tomada de uma forte energia, invadida por uma vontade enorme de vencer, de crescer, de conquistar o mundo, e, todo e qualquer desafio para o futuro, naquele momento pelo menos, pareceu-lhe insignificante, um pequeno muro facilmente ultrapassável pelo um fraco impulso no salto.
Uns poucos minutos antes do brinde ao novo ano, dei por mim a olhar para trás, para este passado recente do último ano. Sem excepção, vi onde errei, onde falhei, onde poderia ter feito melhor, se na altura estivesse com predisposição para tal. Para minha grande satisfação, ali de taça na mão, não senti a vontade do arrependimento, não encontrei uma má pessoa no reflexo desse “espelho” onde me revi, e no brinde á entrada do novo “presente”, não encontrei razões para não sorrir e brindar também a esse passado que terminou pelo imposto ultimo dia do ano; Não sei, penso que pelo facto do último calendário ter sido atirado no lixo, fez com que, com ele, alguns dos dias que ele assinalou deixassem de ter importância, pelo menos os maus, os menos felizes, os menos conseguidos. Ali, no "fim do passado", eles deixavam de ser “realidade”, passando agora a “história antiga” sem relevância para “este” presente, embora deixando sempre algumas facturas para saldar…

Com essas últimas doze badaladas, vem o perdão, vem a nova e renovada energia que nos leva a acreditar que o planeta é demasiado pequeno para a nossa incomensurável vontade. Somos gigantes aprisionados num pequeno e limitado corpo, a rirmo-nos da facilidade do Mundo, e como ele, nessa escassa fracção de segundo, se apresenta tão fraco, tão vulnerável á nossa vontade.
De forma a não perdermos este tão renovado estado de espírito, não acham que deveria haver uma profunda alteração no nosso actual calendário?
O que acham de, em vez de do ano ter 365 dias, ele passar a durar apenas 24 horas?