Sete e meia. Levantar, o banho, a barba, o fato, o nó, o outro nó, mudar de gravata, os sapatos, os outros sapatos, as chaves, onde estão as chaves?, o carro, o portão da garagem, lento…lento…lento…, o prego quase no fundo, o stop. Parado. O rádio, aquela estação, essa não, a outra, o trânsito, a fila, a escapatória, a outra fila, o cigarro, o telemóvel, “mais dez minutos estou aí!”, vinte minutos, o trânsito, o stress, o rádio, a música, o cigarro. Parado.
No vermelho do semáforo, vejo um homem no espelho retrovisor. Era eu. Não, não era eu. Aquele homem tinha um olhar triste, apagado, cansado. Não, não era eu. Se fosse eu, estaria com um sorriso nos lábios, e o brilho dos meus olhos fazer-se-iam notar mesmo através das lentes escuras dos óculos de sol. Não, não era eu. Se fosse eu, deixaria com certeza aquele carro ali parado no meio do trânsito e sairia disparado a correr pelas próprias pernas. Não, não podia ser eu. Aquele era um estranho. Sim, um estranho, porque se fosse eu, não estaria naquele carro, a correr por algo que não quer, a vencer uma batalha que nunca quis travar. Não, não podia ser eu. Se aquele fosse realmente eu, deveria saber que, muitas vezes quando se ganha, perde-se.
Se fosse eu, dispensaria os troféus, os títulos, as honras…
Sim, se aquele fosse eu, era feliz sem nada para mostrar…
Não, ele não era eu…
Se fosse eu, dispensaria os troféus, os títulos, as honras…
Sim, se aquele fosse eu, era feliz sem nada para mostrar…
Não, ele não era eu…
4 comentários:
Revejo-me em cada palavra...incrível!
É Três Tempos, mas temos que arranjar formas para que assim não seja...
Obrigado pela rua visita, e vai passando!
Abraço
INteressantíssimo jogo de palavras. Parabéns!
Abraço.
Surgiu-me mais ou menos por acidente (risos)...
Mas, obrigado Francisco.
Abraço
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