sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Vampiro Comum


De uma forma geral, o dia-a-dia do vampiro comum é vivido apenas com um objectivo: Sangue. Desde a altura que se levanta, até á altura que se recolhe de novo ao seu caixão, todos os seu sentidos vasculham o ar, sedentos, loucos, á procura daquele delicioso néctar. Todo ele é um exército de um homem só, disposto a passar por cima, a ferir, a matar se tiver que ser, todo aquele que se interpõem no seu caminho. Ele é impiedoso, frio, calculista, e um excelente observador. Escolhe a sua presa meticulosamente, estudando a sua vulnerabilidade, todos os seus pontos fracos e manipuláveis, prevendo, de antemão, onde irá cravar os seus dentes. Conhecem alguém assim? Sim, eles andam por aí, inclusive durante o dia, á procura desse alimento que faz deles, os seres mais demoníacos da rua. Estão disfarçados de pessoas gentis, amáveis, prestáveis, confiáveis, mas, tudo o que os move, é em função dessa necessidade primordial, dessa sede terrível. Normalmente, são muito difíceis de identificar, pois confundem-se por entre os comuns dos mortais. Movem-se, de uma maneira geral, muito lentamente, embora confiantes a cada passo, apresentam-se com trajes habituais, mas distintos, e, as palavras fluem seguras, ao mesmo tempo dóceis, não conseguindo, no entanto, disfarçar os trejeitos levemente cruéis nos lábios. Mas, se repararem bem nos seus olhos, irão notar que estão pousados no pescoço de alguém, quase compassados com o movimento do pulsar do sangue na jugular. Muitas vezes, sem os reconhecer-mos, eles vêm fotografados numa página de jornal, ou aparecem como protagonistas de uma qualquer reportagem. Aparecem-nos vestidos de bancários, políticos, investidores da bolsa, e até, homens do clero. Nem todos bebem o mesmo tipo de sangue, os seus gostos são requintados…, mas, mais tarde ou mais cedo, acabam por beber de uma taça envenenada, e aí, uma estaca de madeira perfura-lhes o peito…

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Vida Karaoke

Sou adepto daquelas pessoas que me contrariam, seja numa opinião, numa ideia, numa forma de ver este ou aquele pensamento, aquela visão do mundo. Sim, sou um admirador, um fervoroso adepto, apenas quando o fazem bem, quando o fazem com garra, com convicção, com alma, com conhecimento de causa. Sou um fã daqueles que defendem com unhas e dentes as suas ideias, sim, diferente das minhas, mas sim, as “suas ideias”. Sou um fã da “luta” com um amigo, dos altos e baixos dos tons acesos e espicaçados da “batalha”, dos sorrisos mal contidos á espera de atacar naquele “buraco” do seu argumento. Sou um fã do estado “abananado” depois de ter sofrido aquele “abano” no meu “mundo” de crenças e certezas irrefutáveis. Sou um fã do combate, do “KO” por “A+B”, do aprender a ver, também, “daquela maneira” que conhecia de uma forma incompleta. Sou um fã das palavras altas, dos “concordares baixos”, da discussão, do “quase chateado”, das gargalhadas do “picanço”, da amizade pura que nasce da discórdia, das mentes que pensam por si…
Hoje em dia, não encontro muitas pessoas assim. Com ideias, com a “sua” forma de ver, “a sua” forma de sentir, com algo de “seu” para atirar para a “fogueira”. Cada vez mais, recorre-se às “teses publicadas”, às visões deste ou daquele famoso, que só por fintar bem a bola ao adversário, ou por ter criado aquela música que toda a gente acorda a cantar, passamos a identificar-nos com “ele” em tudo. Desde a forma de vestir, a forma de falar, de pentear, e, mais grave ainda, pensar. Passamos a viver uma “Vida Karaoke”, onde “subimos ao palco” com a música de outra pessoa. Durante a actuação, imaginamos ser nós os donos daquela melodia, cantamo-la como nossa, até os gestos e “tiques” são roubados. Vivemos o “seu” sentimento, e, passamos a ser “ele” de facto, em tudo. Claro que, existem ideias no “mercado” com que nos identificamos e acreditamos, mas, na grande maioria das vezes, escolhemos “aquela” que vem acompanhada pela “imagem” do momento, pela moda do dia, pela mais “cobiçada”. Dessa forma, a nossa mente, a nossa personalidade, viverá sempre de “roupa nova”, hoje de verde, amanhã de vermelho, como o camaleão…

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Camarada de Armas

É nesta partilha, nesta troca de quase tudo que temos, de quase tudo o que somos, deste dar e receber de saberes, que vamos construindo sempre um pouco mais de nós. Hoje vejo que, infelizmente, tenho vindo a ser um fraco a “receber”. Sim. Receber. Eram poucas as vezes a que me dispunha a aceitar “aquela mãozinha” de ajuda, “aquela ajuda grátis”, “aquela palavra de conforto”. Nunca fui uma “daquelas” pessoas, dispostas a fazer profundas reflexões acerca de “como teria sido, pela maneira dela?”. Não, não era pelos “se ao menos a tivesse ouvido…”, pelos “podia ter feito diferente…”. Nunca fui adepto do arrependimento, mas sim, pelo reconhecimento da “falha”, do “ meu erro”. Fui sempre um defensor do “No meu erro, encontrarei a resposta certa”. Muitas vezes, é-nos muito difícil pensar “fora da caixa”, ver a “coisa” de outro ângulo, de outra prespectiva, como um espectador da nossa própria peça de teatro, assistindo ao “drama” do momento. Eu sei. Mas, desse lado, do lado de fora, está sempre alguém, com “aquele outro ângulo” perfeitamente nítido, que nós, apenas porque o queremos, não o queremos ver. Muitas vezes, carregamos o peso da decisão como a uma arma nos braços. Assumimos a frente de combate sozinhos, como se fosse uma vingança pessoal. Hoje, vejo a vida de forma diferente. Vejo-a com mais de um par de olhos. Juntos, não encontramos muitas vezes “aquela resposta ideal”, o tiro nem sempre é certeiro… Mas, nesta guerra, ninguém sai vencido pelas más decisões, pelos tiros no escuro, pelas quedas na procura do melhor abrigo…. Apenas chamuscados, pela euforia do combate.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Banda Sonora

Se tivesse que escolher uma banda sonora para o “filme da minha vida, seria, certamente, um tema dos U2. Quase qualquer um deles. Existem, claro, outras músicas, de outros músicos, de outras bandas que eu gosto e que, certamente, tiveram um papel importante, enquanto “ruído de fundo” desta ou daquela situação. Mas, isso acontece, porque sim, porque ela está lá, por acaso, porque tem que ser, por coincidência.
Não quero dizer com isto, que apenas os U2 são a única banda que oiço. Não, não sou um “super fã”, daqueles que têm os restos do frango assado que a banda comeu no último concerto de Alvalade, guardados no cofre. Sou sim, um fã. Pelo que dizem, pelo que cantam, pelo que tocam, por tudo aquilo que me fazem lembrar, por tudo aquilo que me fazem sonhar, pela paz que oferecem, pela sua companhia no amor… Sou um fã.
No dia dois de Outubro de dois mil e dez, lá estarei, a curtir, a cantar, a viver, mais uma vez, uma experiência, quanto a mim, quase religiosa…


terça-feira, 20 de outubro de 2009

Navegar...


É. O barco vai andando. Umas vezes depressa, outras devagar, enfrentando dias de tempestade, e, de quando em vez, radiosos dias de calmaria. Vai ao sabor da maré.
Isto de navegar, é para todos. Cada um de nós nasceu capitão. Cada um de nós é dono da sua própria embarcação. Navegamos todos os dias num mar caprichoso, temperamental, que constantemente nos põe á prova, roubando por vezes alguns pedaços de madeira ao nosso pequeno barco, num daqueles acessos de fúria combinados com a chuva e o vento. Remamos com vigor, com vontade, quando avistamos aquela "ilha do tesouro", mas, quando apenas as águas e o vazio do horizonte preenchem os nossos olhos, deixamo-nos levar apenas pela força das ondas. Assim, sem a bússola que não nos foi dada no principio da viajem, vamos andando, perdidos, sem rumo, á procura de novas ilhas, novos portos, novos tesouros. Pelo caminho, muitas outras embarcações se vão avistando, algumas pintadas de fresco, outras metendo água…
Na realidade, o importante é mantermo-nos á tona e desfrutarmos do "passeio", porque, para onde quer que naveguemos o nosso pequeno barco, o mar será sempre o mesmo…

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Regressei...a uma vida passada.

Hoje fiz aquilo que há muito tinha curiosidade para fazer. Regressão a vidas passadas através do Reiki. Dirigi-me a uma clínica chamada Portal da Luz, no Porto, e aí foi. “Regressei”



Começou por um exercício de relaxamento do corpo. A começar pelo braço direito, as mãos, os dedos, o cotovelo, e depois o mesmo no braço esquerdo, passando depois para a cabeça, tronco, costas, pernas e pés. A respiração era lenta, em profundas inspirações e lentas expirações. “Relaxe….inspire profundamente”, dizia a terapeuta numa voz calma e suave, quase um murmúrio.


Vejo uma escada. Ela desce em espiral no interior de uma câmara pouco iluminada. Os degraus são em cimento e não existe qualquer tipo de apoio para as mãos. O espaço é frio, feio e mal tratado. No fim da descida, estou numa sala de paredes vermelhas. Ao fundo, a luz entra forte e branca pelos pequenos vidros quadrados da janela. Á esquerda da sala, está um móvel, perece-me uma cómoda, preta, com desenho clássico, antigo, com largas gavetas. Ao meu lado direito está uma porta, alta, castanho clara. Não tem puxador. Empurro-a. Ela não abre. Sinto medo, agora está tudo escuro, sinto arrepios e, subitamente, abro os olhos.



“Hélder, você bloqueou” disse-me a Dra. Depois de algumas perguntas e considerações relativas a "esse" medo, disse-me que devido a "ele", bloqueei a minha entrada pela porta que tinha visualizado.


Segunda tentativa: Estou novamente na mesma sala. Vejo agora que ao lado da cómoda escura, se encontra uma outra porta. Alta, estreita, branca. Encontra-se fechada, mas tem um puxador. Abro. Entro. Uma lareira ao fundo queima alguns toros de madeira. Uma grande secretária vazia de papéis faz companhia a uma confortável cadeira. “Vê alguém nessa sala?”, pergunta a voz suave - Vejo. Ele está de pé com uma mão atrás das costas e a outra no queixo, pensativo, junto de uma janela. Olha as árvores e o rio mais lá á frente. É alto, veste todo de preto a condizer com o preto do cabelo e bigode “Vê algum nome?”. Sim. (***nome***). Sou eu.
“O que é que ele está a sentir?”
Ele está preocupado, apreensivo com a decisão que tomou. Matar os seus empregados, seus companheiros de mar… "Você é pescador?"- Não. Eu roubo no mar. Quero ficar com tudo para mim...
“Avance até á altura em que põe em prática esse seu plano” - Estou numa praia, sozinho. Fui abandonado pelos meus companheiros. Não os matei. Eu é que quero morrer, aqui, sozinho nesta praia.



“Avance 2 anos…onde está agora?” – Estou numa feira, novamente vestido de preto, com um lenço preto na cabeça. Estou furioso, enquanto passo olhares rápidos pelo espaço de pedra que compõe a feira. “Porquê está zangado?” – Não sei….
“Avance, agora dez anos” – Estou no campo. O campo da minha casa. Vivo da terra, das uvas. Estou sozinho, e sinto-me só, deprimido.



“Avance até á altura da sua morte”- Estou deitado numa cama muito larga, coberto por lençóis brancos. O quarto é cinzento, e do lado direito da parede está um quadro oval com um desenho de uma senhora. Estou sozinho, mas ouço o barulho das minhas duas filhas a brincar lá fora. A minha mulher não está preocupada. Eu distanciei-a durante toda a minha vida. Ela não me ama…
Estou agora no meu funeral. Ela, a minha mulher, veste de preto com uma renda preta na cara. Segura as nossas filhas, uma por cada braço, junto de si.
O caixão tem muitas flores em cima, mas muito pouca gente está lá a assistir.



“Avance até o seu plano espiritual…vê alguém consigo?” – Não, ainda estou na minha casa. Não quero partir. “Avance até o momento em que partiu” – Estou sentado na relva. Estou vestido de branco, assim como toda a gente que cá está. Estou a ler um livro de capas vermelhas. É o livro da minha vida. Leio-o sem qualquer emoção, sem qualquer arrependimento. Aqui sinto que o que fiz na Terra não tem qualquer importância. Estou a aprender, a ver aonde é que errei. “Avance até o momento em que está prestes a regressar a este mundo novamente” – Vejo um homem velho, alto, de bigode branco. “Quem é ele?”- É meu professor parece-me um pouco zangado, ou impaciente. “Quais são as palavras que o ouve dizer?” – Bondade, determinação, fugir da solidão…. são as minhas missões….


Nota: Muitas outras coisas foram ditas, assim como muitas emoções foram vividas, mas, prefiro conservar essas experiências apenas para mim. No entanto, partilho esta “viajem” convosco, porque penso que todos nós a devíamos fazer, porque muito pode ser aprendido e corrigido nesta vida…

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Efeito Borboleta

Todos nós o fazemos todos os dias. Antecipar. Fazemos o “filme” na nossa cabeça, e aí, ou choramos de sofrimento, ou pulamos de alegria, mesmo estando a horas, dias, anos, do “tal” momento. Antecipar um acontecimento, é nada mais, nada menos do que um acto de fé, uma fantasia, uma certeza que tomamos como certa mesmo sem prova que o confirme. Vivemos cada vez mais no futuro, no incerto, nas projecções, no medo. Esquecemo-nos muitas vezes que tudo muda, e que o “efeito borboleta” nos acompanha todos os dias. O mais pequeno gesto, a mais insignificante das palavras, pode ter grandes consequências nos acontecimentos futuros, mudando de forma radical o percurso previsto. Aí o “filme” cai por terra, ou melhora o enredo….
E então, com a ânsia de chegar “lá”, de confirmar a nossa projecção, a nossa “visão”, vivemos obcecados com aquilo, consideramos todos os cenários, procuramos o perigo, criamos soluções , desesperamos porque "assim" não vai resultar, e “que é que eu vou fazer agora?”, e aí choramos, vem o stress, a depressão, e……nada disto aconteceu.
Proponho o seguinte: Vivamos o presente e não o futuro. Sonhar, ambicionar, querer algo, sentir medo de perder, são características que compõem a alma do Homem, mas, não esqueçam que a Vida está a acontecer Agora, e que amanhã “não sei”…

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

"Big Boss"

Mesmo os cépticos, os não crentes, os chamados “pragmáticos” têm duvidas. Existe ali um resquício de fé que os leva a pensar, a sonhar, a acreditar. Cada vez mais, a “magia do além” é um assunto do dia-a-dia, uma discussão de pub, um sonho ao deitar. Essa dúvida, essa esperança, surge muitas vezes nos piores momentos da vida do Homem. Quando nos é retirado algo, alguém pela morte, a doença imparável. Aí sim, temos sempre a quem culpabilizar. “ELE quis assim”. Revelamo-nos crentes nesses momentos, e aceitamos “de mau grado” a Sua Vontade, e aí, temos fé que “esse alguém” que partiu, agora está melhor, num sítio lindo e em paz, que essa doença imparável que assolou o nosso corpo, irá ser travada pela Sua Mão, se Lhe rogarmos pelo poder da oração. Já repararam que o nosso “encontro” com Deus é feito, ou melhor, assumido por nós, quando perdemos, ou estamos prestes a perder algo que nos é muito importante? Que só recorremos a Ele, quando tudo o resto falha? Encaramo-lo muitas vezes como “ultimo recurso”, como o “Big Boss lá em cima” que tem a autoridade, a capacidade de mudar as regras do jogo?
Penso que o pragmatismo em relação á “Eternidade” é encarado por muitos como uma questão de “estilo de vida moderno”, porque “Vivo com os pés bem assentes na Terra”. Conferem as suas glórias e vitórias quotidianas apenas ao seu próprio trabalho e empenho, dizendo muitas vezes àqueles que contam com “Ele” como parceiro “Sou eu que faço a minha própria sorte”. Pois que seja, mas, quando “ta” roubarem, não venhas reclamar ao Big Boss!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Veneno delicioso

Muitas dessas pessoas que dizem “naquele tempo é que era”, provavelmente viveram mais tempo “naquela altura” do “que nesta altura”. Habituaram-se àquilo, á miséria e á ditadura… É quase como uma dor que habitou tanto tempo aquele corpo que, depois de removida, fez falta...Ou como aqueles casos em que a mulher ao fim de tantos anos a sofrer de violência doméstica, acha estranho quando o marido não lhe levanta a mão… e fica infeliz com isso. O ser humano é assim; Ao fim de algum tempo a viver na “lama” chama-lhe o mais felpudo dos cobertores, o seu pequeno mundo onde é feliz porque “podia ter menos que isto”. E a vida é feita destas vidas…
Convenhamos que nem todas são assim. Mas, todos nós, numa ou noutra altura, somos “encolhidos”, barrados pelas circunstâncias, sejam elas monetárias, políticas ou familiares. Não deixemos é que sejam por nossa opção, pela nossa vontade. O conformismo é um veneno viciante e muitas vezes delicioso…