segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Arco da Ponte


Há dias, num desses domingos pachorrentos, fui dar um passeio ali para a zona da Ribeira do Porto. O dia estava esplendoroso. O sol brilhava nas águas do Douro, e as lojas abarrotavam de turistas, que admiravam postais, os barquinhos rabelos, e todos aqueles artefactos característicos da nossa cidade. Olhavam para a Ponte D. Luís, e disparavam fotos dos putos que saltavam dela para recuperar a tuta-e-meia atirada por alguém.
Enquanto tomava o meu café e fumava o meu cigarro, ali numa esplanada junto da Ponte, não pude deixar de reflectir no seguinte: De tanto estarmos habituados a ver determinada paisagem, seja ela uma cidade, seja ela um quadro, ou mesmo uma pessoa, muitas vezes deixamos de reparar na sua beleza, na sua grandiosidade, o quanto “ela” é importante na nossa vida. Os nossos olhos habituam-se de tal forma “àquela forma”, que ela, com o passar do tempo, perde relevância, importância, torna-se quase invisível, transparente, pelo menos enquanto “dali” não sair, enquanto “dali” não for roubada. Cheguei á conclusão que, muitas vezes andamos assim, como dizer…, habituados do mesmo, daquele cenário de sempre, daquela pessoa de todos os dias, daquela Ponte de sempre, com as conversas de sempre, com os putos de sempre. Depois, vem alguém de fora, de outro país, com aquele olhar de “algo de novo”, de cobiça, de alguém que enxerga pela primeira vez, e chama-nos á atenção daquilo que é nosso, daquilo que nos esquecemos de olhar, daquilo que amámos mas que nos esquecemos de cuidar, de admirar, de “tocar”, e aí, acordamos e lembramos o quanto “aquilo” é importante, o quanto descuramos e esquecemos aquela Ponte, o quanto retiramos e não oferecemos a esse rio, a essa pessoa…
O dia em que cegamos, é o dia em que perdemos a capacidade de olhar, de nos maravilhar, uma e outra vez com as dádivas que o Universo nos pôs no caminho… ali no desenho da tela, na pessoa do nosso lado, na imagem da cidade, no arco da Ponte…

4 comentários:

liamaral disse...

Deixa-me dizer-te que ainda não tinha acabado de ler e já estava com um sorriso nos lábiso de satisfação pela originalidade e inteligência com que explicaste algo tão simples mas tão esquecido! Posso assinar por baixo?
Parabéns, muito bom!
:) Beijinho

Hélder Ferrão disse...

Pois é Liamaral, e é uma pena que isso aconteca, porque as coisas mais simples são, muitas vezes, as mais belas...
E claro que podes assinar por baixo! (Risos)
Obrigado e Beijinhos!

FM disse...

E todos, acredita, somos um rio...
Abraço.

Hélder Ferrão disse...

Essa pequena frase "Todos somos um rio" tem mesmo muito que se lhe diga...
Abraço, Francisco