quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Momento (0)


A morte é um daqueles “assuntos”. Sim, é um daqueles temas que parecem estar confortáveis nas nossas bocas durante um interessante e “revelador” debate de crenças, isso quando se referem a ela como uma forma de vida, claro. Mas, aqui e agora, não quero discorrer em teorias baseadas em qualquer tipo de fé, atirando prá fogueira questões do tipo “como será o estado de morto”, ou mesmo “como será o paraíso”, não, porque forçosamente isso remeteria o cenário deste texto para a tal “vida depois da morte” e eu não pretendo ir por aí, porque por “aí” estamos todos preparados para “lhe pegar” de uma forma leve e despreocupada, dando asas á imaginação, porque, convenhamos, mais não podia ser. Pretendo, isso sim, “tirar-vos” o gozo do “e se?” e falar aqui daquilo que garantidamente é real, mas, por qualquer motivo, ninguém quer falar, ninguém quer sequer pensar, ninguém quer sequer imaginar: O momento “0”, o fim da linha, o momento da morte. Esse sim é real, só não sabemos o “quando” e o “como”, e, verdade seja dita, não queremos agora ocupar o nosso pensamento com essas inquietações!
«Oh Hélder! Que assunto mais mórbido!»- pensam voçês. Sim, provavelmente têm razão, mas não deixa de ser “interessante” de pensar, não acham? Escusam também de ter medo, porque o “falar na morte” não é de todo sinónimo de “chamar a morte”...
Onde quero chegar com isto tudo? Depois de divagar um pouco, era exactamente aqui: Quando nos vimos “cara-a-cara” com esses “momentos 0”, muitos deles trágicos, injustos, irracionais, na vida, ou no fim da vida neste caso, de alguém que conhecemos, isso põe-nos a pensar, põe-nos a imaginar, põe-nos logo a tremer de medo e a pedir aos céus que nos poupe “áquele cenário”, não é verdade? Sim, claro que é, e isto não é uma critica, a final também eu sou humano, mas, assim a jeito de “estalo para acordares”, inclusive para mim, penso que deveriamos todos estar mais em sintonia com estas realidades. Porquê? Eu respondo-vos. Talvez se “compreendessemos” melhor a morte, se a olhassemos mais vezes “olhos nos olhos”, se não fugissemos a sete pés quando ela nos passa ao lado, provavelmente teriamos muito mais sensibilidade face ás tragedias do mundo; Não mudariamos por exemplo o canal de televisão quando vissemos a morte estampada na cara de uma criança que morreu de fome, porque a mãe dela, também já morta pela fome, não a conseguiu salvar; não virariamos as costas ás vitimas inocentes de uma guerra injusta, enfim....não seriamos negligentes com o sofrimento do mundo, e provavelmente, com essa consciência da “radicalidade” da morte, uma outra consciência de ajuda seria criada...porque o mundo afinal, também somos nós...

2 comentários:

ThreeTense disse...

A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.
E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.

Fernando Pessoa

«Um beijo Moço»

Hélder Ferrão disse...

E mais palavras para quê?
Excelente.
Beijinho, Três Tempos