quinta-feira, 22 de abril de 2010

Moto da Moda


Se há coisa que me arrependo, e muito, é de ter vendido a minha moto. Não é que ela fosse grande coisa, mas era “a minha moto”. Sim, nunca a devia ter vendido. Foi-me oferecida pelo meu pai quando fiz 16 anos, e era muito bonita. Na altura era a moto da moda, e todos os putos queriam ter uma. A Aprilia SR 50 tinha acabado de entrar no mercado com um design diferente e inovador, o que significava que eu era um dos “tais” que a possuía, e, por isso, o meu estatuto de “cool” foi reforçado nos corredores da escola. Para vos ser sincero, nessa altura não ligava muito a motas, tinha até algum receio, confesso, mas era tão fixe ter uma e, claro, as miudas apreciavam.... A questão é que eu prezava, e isso sim é que era importante, a minha liberdade. Com ela ia para onde queria, quando queria, e ninguém tinha nada a ver com isso. Adorava sentir o vento na cara pela manhã enquanto a conduzia em direcção às salas de aula, e o gelo por debaixo das luvas nunca foi um problema durante o tempo de inverno. Lembro-me que cheguei até a rapar o cabelo, cabelo esse que eu tanto estimava usar com gel, só por causa do capacete que teimava em o destruír. Que tempos esses! Que saudades… Tudo era tão diferente, não que fossem melhores dos que os de hoje, apenas diferentes. Aquilo que mais sinto falta, agora que penso nisso, é a espontaneidade, a sinceridade com que encarava o mundo e as pessoas. Agora tudo é mais “calculado”, mais “estudado”, mais feito com “medições de risco”…
Voltando á minha scooter, e ao facto de a ter vendido quando completei 18 anos, quero-vos dizer que o fiz pelo facto de ter começado a conduzir um carro. Já era adulto, já tinha o meu carro, e por isso as scooters passaram a um "plano inferior", a ser coisas de miúdos. Pois… mas hoje, adulto feito que sou, tenho saudades, muitas saudades do vento a assobiar pela frincha da viseira do capacete, do gelo debaixo das luvas, de ser aquele puto com a "moto da moda" de cabelo rapado…

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